Dom Odilo Scherer |
Leniéverson Azeredo Gomes
Dirceu de Mello e Anna Cintra
Acontece que o atual reitor,
Dirceu de Mello, foi reeleito para mais quatro anos no cargo, mas Dom Odilo
Scherer, que também é Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, preferiu nomear, no dia 12 de novembro, Anna Cintra, a terceira colocada para a cátedra A atitude
de Dom Odilo Scherer provocou o furor de alguns professores e alunos.
Desde o dia 13 de novembro, os
alunos da PUC-SP, do Campus-Perdizes, estão em "greve" (alunos fazem greve? Ui, "eu me recuso a estudar", só se for isso) , com o intuito de fazer com
que Dom Odilo volte atrás e emposse o Dirceu de Mello, para o cargo de reitor.
No dia seguinte, dia 14 de novembro, funcionários e professores igualmente se
juntaram aos alunos na paralisação.
Carteiras reviradas durante a "greve" da PUC-SP |
Na visão dos alunos, professores
e funcionários, Dom Odilo Scherer está promovendo um “golpe” (sic) contra a
democracia. O atual reitor, Dirceu de Mello, acha muito estranho tudo isso,
pois, “foi indicado ao cargo pelo próprio prelado, em 2008”. E acrescenta ainda
“Se eu fosse estudante, estaria procedendo da mesma forma [participaria da "greve"]" (alunos fazem greve?).
Bem, nestes dois anos em que o blog está no ar, a temática das PUCs foi abordada, inúmeras vezes
[aqui], [aqui], [aqui],[aqui], [aqui] e [aqui]. E em quase todas as vezes, há referências
sobre insubordinação de certos professores e alunos das Pontifícias e o que
poderá acontecer se essa rebeldia, digamos assim, permanecer. Agora, vejamos,
existe um documento, na verdade, uma constituição apostólica, chamada “Ex-Corde
Ecclesiae”, que regula o funcionamento das Universidades Católicas. Destaco
aqui algumas partes desse importante instrumento normativo:
“ NASCIDA DO CORAÇÃO DA IGREJA, a Universidade
Católica insere-se no sulco da tradição que remonta à própria origem da
Universidade como instituição, e revelou-se sempre um centro incomparável de
criatividade e de irradiação do saber para o bem da humanidade. Pela sua
vocação a Universitas magistrorum et scholarium consagra-se à investigação, ao
ensino e à formação dos estudantes, livremente reunidos com os seus mestres no
mesmo amor do saber. Ela compartilha com todas as outras Universidades aquele
gaudium de veritate, tão caro a St° Agostinho, isto é, a alegria de procurar a
verdade, de descobri-la e de comunicá-la em todos os campos do conhecimento. A
sua tarefa privilegiada é « unificar existencialmente no trabalho intelectual
duas ordens de realidade que muito frequentemente se tende a opor como se
fossem antitéticas: a investigação da verdade e a certeza de conhecer já a
fonte da verdade”(...)
“Neste contexto as
Universidades Católicas são chamadas a uma contínua renovação, enquanto
universidades e enquanto católicas. Com efeito, « está em causa o significado
da investigação científica e da tecnologia, da convivência social, da cultura,
mas, mais profundamente ainda, está em causa o próprio significado do homem
». Tal renovação exige a clara
consciência de que, em virtude do seu carácter católico, a Universidade é mais
capaz de fazer a investigação desinteresseira da verdade - investigação, portanto,
que não está subordinada nem condicionada por interesses de qualquer género”.(...)
“À luz destas quatro
características, é evidente que para além do ensino, da investigação e dos
serviços comuns a todas as Universidades, uma Universidade Católica, em virtude
do empenho institucional, traz à sua missão a inspiração e a luz da mensagem
cristã. Numa Universidade Católica, portanto, os ideais, as atitudes e os
princípios católicos impregnam e modelam as actividades universitárias de
acordo com a natureza e a autonomia próprias de tais actividades. Numa palavra,
sendo ao mesmo tempo Universidade e Católica, ela deve ser juntamente uma
comunidade de estudiosos, que representam diversos campos do conhecimento
humano, e uma instituição académica, na qual o cristianismo está presente dum
modo vital “.
As partes destacadas mostram
que a declaração de uma aluna do curso de Jornalismo da PUC-SP, ao Jornal da
Gazeta, está redondamente equivocada. Ela disse que, “a 'greve'(sic)(?) deflagrada,
dentre outras coisas, reside na” defesa dessa concepção de uma educação de
qualidade, uma educação acessível (…),uma educação laica (sic)”. Essa visão distorcida sobre a Universidades
Católicas, nos lembra da recente estória da Pontifícia Universidade Católica do
Peru, com a sede da reitoria em Lima, que aliás, não é mais pontifícia, porque, tanto o reitor, quanto
muitos professores e alunos não queriam mais se render as ordens da Santa Sé.
Desde julho desse ano, ela está terminantemente e expressamente proibida de
usar os nomes: “pontifícia” e “católica”. E mais está ameaçada de perder as
propriedades, tendo em vista que a utilização dos terrenos onde se localiza os
campi foi condicionada, desde a fundação, para fins pontifícios e católicos.
Então, vêm-se as perguntas: Vale a pena, tanta briga? Vale a pena tanta
rebeldia? Porque não se obedece aos estatutos, dos quais todos deveriam, de
antemão saber?
Dom Odilo, ao nomear a
professora Anna Cintra, usou as prerrogativas que lhe te tinha direito por lei
constitucional apostólica. Agora, chamá-lo de golpista e avesso a democracia é
um tanto irônico. Agora, vejam o que diz a Ex Corde Eclesiae sobre isso, o que
estiver em negrito e grifado é um acréscimo meu:
Aos
professores e o pessoal administrativo
“Os professores e o pessoal
administrativo que pertencem a outras Igrejas, Comunidades eclesiais ou
religiosas, bem como aqueles que não professam nenhum credo religioso e todos
os estudantes, têm a obrigação de reconhecer e respeitar o carácter católico da
Universidade. Para não pôr em perigo tal identidade católica da Universidade ou
do Instituto Superior, evite-se que os professores não católicos venham a
constituir a maioria no interior da Instituição, a qual é e deve permanecer
católica”.
Assim, todo professor e
pessoal administrativo devem:
“No momento da nomeação, todos
os professores e todo o pessoal administrativo devem ser informados da
identidade católica da Instituição e das suas implicações, bem como da sua
responsabilidade em promover ou, ao menos, respeitar tal identidade. Nos modos
conformes às diversas disciplinas académicas, todos os professores católicos
devem receber fielmente, e todos os outros professores devem respeitar: a
doutrina e a moral católica na investigação e no ensino. Dum modo particular,
os teólogos católicos, conscientes de cumprir um mandato recebido da Igreja,
sejam fiéis ao Magistério da Igreja, que é o intérprete autêntico da Sagrada
Escritura e da Sagrada Tradição”.
E os alunos das Universidades Católicas, hein?
“A educação dos estudantes deve
integrar o amadurecimento académico e profissional com a formação nos
princípios morais e religiosos e com a aprendizagem da doutrina social da
Igreja.O programa de estudos para cada uma das diversas profissões deve incluir
uma formação ética apropriada na profissão, para a qual ele prepara. Além
disso, a todos os estudantes deve ser oferecida a possibilidade de seguir
cursos de doutrina católica”.
Porque tudo isso? Vou repetir a Ex Corde:
“A Universidade Católica deve
promover a cura pastoral dos membros da Comunidade universitária e, em
particular, o desenvolvimento espiritual daqueles que professam a fé católica.
Deve ser dada a preferência aos meios que facilitam a integração da formação
humana e profissional com os valores religiosos à luz da doutrina católica, com
o fim de unir aprendizagem intelectual com a dimensão religiosa da vida”]
E porque mais?
Cada Universidade Católica deve
manter a comunhão com a Igreja universal e com a Santa Sé; deve estar em
estreita comunhão com a Igreja particular e, especialmente, com os Bispos
diocesanos da região ou das nações em que está situada. De acordo com a sua
natureza de Universidade, a Universidade católica contribuirá para a
evangelização da Igreja.
E por isso, Dom Odilo tem razão em fazer o que fez?
[Claro, a Ex Corde assim diz]: “Cada Bispo tem a
responsabilidade de promover o bom andamento das Universidades Católicas na sua
diocese e tem o direito e o dever de vigiar sobre a preservação e o incremento
do seu carácter católico. No caso de surgirem problemas a respeito de tal
requisito essencial, o Bispo local tomará as iniciativas necessárias para
resolvê-los, de acordo com as Autoridades académicas competentes e de harmonia
com os processos estabelecidos e — se necessário — com a ajuda da Santa Sé”.
E como resolver esses casos problemáticos?
“A Autoridade competente deve
segundo os estatutos providenciar para que nas Universidades Católicas sejam
nomeados professores [obviamente vale
também para reitores], os quais, para além da idoneidade científica e
pedagógica, devem primar pela integridade da doutrina e pela probidade de vida,
e para que, faltando tais requisitos, observado o modo de proceder definido
pelos estatutos, sejam removidos do cargo”. [Isso
guarda paralelos muito fortes com a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho),
criada nos anos 30, no Governo Getúlio Vargas, que regula as relações entre
patrões e empregados, nas empresas privadas, pois vejam o que diz o artigo 482
da CLT – suprimindo alguns incisos desnecessários a discussão:
Nas relações de trabalho tem de ter obediência |
“Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de
trabalho pelo empregador:
a) ATO DE IMPROBIDADE;
b) INCONTINÊNCIA DE CONDUTA OU MAU PROCEDIMENTO;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
h) ATO DE INDISCIPLINA OU DE INSUBORDINAÇÃO;
j) ATO LESIVO DA HONRA OU DA BOA FAMA PRATICADO NO SERVIÇO CONTRA
QUALQUER PESSOA, OU OFENSAS FÍSICAS, NAS MESMAS CONDIÇÕES, SALVO EM CASO DE
LEGÍTIMA DEFESA, PRÓPRIA OU DE OUTREM e
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas
contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima
defesa, própria ou de outrem”.
Então, perceberam a semelhança entre a Ex Corde e a CLT, e, porque os
professores rebeldes precisam dar exemplo aos alunos, senão podem muito bem
serem “convidados” a se retirarem da Universidade? Quem são os verdadeiros golpistas que querem aparelhar (emporcalhar) a PUC-SP, mais ainda com Marxismos e Gramscismos? Não tem mistério, tão
insatisfeitos procurem outra instituição de ensino superior “laica” e trabalhe
lá. É melhor e me parece uma atitude mais equilibrada, porque não fica com uma
mancha na vida profissional."A porta da rua é a serventia da casa", como diz um velho ditado popular.
E qual é o papel das conferências episcopais e dos bispos no
enfrentamento dessa situação?
“As Normas Gerais devem ser
aplicadas concretamente a nível local e a nível regional pelas Conferências
Episcopais e pelas outras assembleias da Hierarquia Católica (...) e as Conferências Episcopais e
os bispos diocesanos interessados têm o dever e o direito de vigiar, para que
nas mesmas Universidades sejam observados fielmente os princípios da doutrina
católica”. [No caso do Brasil, a CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) realiza todos os anos a AGO
(Assembleia Geral Ordinária), mas nesse evento anual, ela não discute se quer,
de fato, assumir esse “dever e direito”, além disso há outros eventos de
discussão sobre as universidades católicas, mas a CNBB não discute a problemática
dos professores e alunos rebeldes. Mas a decisão de Dom Odilo me parece ser uma
excelente luz no final do túnel.]
Apenas recomendaria expressamente a Dom Odilo, se eu fosse assessor de comunicação da arquidiocese
de São Paulo, que convocasse uma entrevista coletiva em um auditório grande,
pode ser na reitoria dizendo que não volta atrás na discussão, mostre a
possibilidade de demissão de professores insurgentes, e exponha o caráter católico
citado por mim acima, com o suporte de slides e vídeos, mostrando, também, a Constituição
Apostólica Ex Corde Ecclesia.
Diante disso, este blog manifesta o apoio a Dom Odilo Scherer neste momento tão difícil na sua vida pastoral .
E vocês estão comigo nessa?
4 comentários:
Saudações!
Vi seu comentário no Deus Lo Vult.
Foi dito que a Anna Cintra teria assinado um compromisso de recusar o cargo caso não fosse a primeira colocada. Isso me preocupou, mas não seria o caso de invalidar a eleição?
Caro Bruno, Santa Noite, obrigado pela participação no blog. Eu, realmente, li isso em vários lugares também, mas até agora a Anna Cintra não veio a imprensa dizendo que irá, de fato, cumprir o acordado ou não. O que há de concreto é que Dom Odilo não tem pretensão de voltar atrás. Temos que aguardar as cenas do próximo capitulo dessa novela que promete ficar quente, nos próximos dias. Fica com Deus!
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