Leniéverson Azeredo Gomes
Existe uma expressão consagrada nos estudos de comunicação, chamada sociedade do espetáculo. São pessoas que usam parte dos seus salários para custear momentos de lazer: como passeios a praia, ir a um hotel fazenda, ir ao cinema, teatro, alugar um DVD, um show de música aberto ou fechado, ir a alguma galeria de arte, etc. Essas mesmas pessoas, usam seu momento “livre” para assistir programas conhecidos pelo nome em inglês de Realities Shows, em português “A mostra da Realidade”.
São formatos de programas copiados e adaptados de outros de países de origem a realidade dos países de destino ou franqueados, mantendo sua arquitetura e conteúdos originais. Em comum, os programas possuem diversos participantes e tem como objetivo , bolar estratégias para a cada semana eleger um líder, um anjo, dispor aos mesmos uma gama de gincanas para definir um vencedor e fazer com que a cada semana, um participante seja eliminado, de forma que no final do programa, que pode durar várias semanas, possa restar uma pessoa: a vencedora ou vencedor do programa.
Nas emissoras de televisão brasileira são exibidos vários desses programas “enlatados”, os dois maiores são o “A Fazenda”, da Rede Record – a ultima edição (4ª) exibida no ano passado e o Big Brother Brasil, da Rede Globo (no ar em sua 12ª edição). É justamente sobre ele, o Big Brother Brasil 12, que eu gostaria de fazer alguns apontamentos muito importantes.
Todo mundo deve estar acompanhando o suposto estupro, cometido pelo “Brother” Daniel a “Sister” Monique debaixo do edredom, no domingo (15). No vídeo de sete minutos, a moça de 23 anos, estaria aparentemente bêbada, após ter ingerido cinco doses de vodca e uma lata de cerveja – coisas habituais em realities shows – e, o Daniel, nas imagens teria se aproveitado disso para usar e abusar de Monique.
O acontecimento entre Daniel e a Monique provocou uma reação quase imediata nas redes sociais da Internet que “entupiu” os e-mails do Ministério Público, este que acionou a delegacia da Policia Civil do RJ, mais próxima do Projac, para que este inicie uma investigação criminal sob a suspeição de estupro de vulnerável. Enfim, a imprensa nacional e até internacional repercutiu o fato causando um efeito claramente devastador para a Rede Globo, pois foi ameaçada pelo Ministério das Telecomunicações se, no decurso da investigação verificar que aquilo foi transmitido ou rede aberta ou “a cabo”, o programa poderá sair do ar.
O desenrolar está nas mãos da investigação da polícia, mas a questão dos realities shows, principalmente esta edição do Big Brother que está no ar, nos sugere algumas ponderações importantes.
Em primeiro lugar, no paragrafo inicial deste texto foi usada a expressão “sociedade do espetáculo”, cunhada e desenvolvida pelos estudos comunicacionais do francês Guy Debord, em 1967, através do seu livro homônimo a expressão.
Para ele, “a alienação do espectador em proveito do objeto contemplado (que é o resultado da sua própria atividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo, ou seja, (...) os seus próprios gestos já não são seus, mas de outro que os apresenta”.
Vejam minha gente, é a cultura da “espiadinha”, do “voyeurismo”, de pessoas que desperdiçam tempo valioso para acompanhar o Big Brother Brasil e outros programas do gênero.As pessoas são capazes de se anular, para acompanhar em tempo real, ou quase, a rotina de seres humanos, seja em canal aberto, seja em pay-per-view (pague-para-ver) em canal por assinatura, muitas vezes em companhia de crianças pequenas .
Quando são os muitos cristãos praticantes que se dão a ver esse tipo de programa de televisão, com a presença de filhos, sobrinhos e netos pequenos, a questão se mostra mais grave e chocante ainda, pois os “realities” depõem desfavoravelmente a todos os valores éticos e morais ensinados por Cristo. Debord acentua que, “destituída de seu poder prático, e permeada pelo império independente no espetáculo, a sociedade moderna (também a cristã – grifo do blog) permanece atomizada (hipnotizada) e em contradição consigo mesma”.
O apóstolo São Paulo aos Romanos defende que “toda lei é espiritual, mas o ser humano é carnal, vendido ao pecado”(Rm 7,14). Além disso, São Paulo desabafa que “não entende, o que faz, pois ele não fazia o que queria, mas sim o que o aborrecia” (Rm 7,15). De fato, o homem que de perseguidor de Cristãos passou a ser apóstolo de Jesus, entendia que “tudo era permitido, mas há coisas que nitidamente não convém” (I Cor 6,12).
Mas é justamente essa a questão, se perguntarmos a todo cristão praticante que assiste a esses programas, certamente responderá que os mesmos são indecentes, mas... acha que não faz mal assistir uma vez ou outra. Afinal, é só uma espiadinha, o que tem de mal? Esse raciocínio é muito semelhante, ao discurso da serpente com a Eva, no versículo 4º, do capítulo terceiro do Genesis. E questão a figura ofídico-bíblica, ou seja, o personagem bíblico da serpente, disse à mulher que saiu da costela de adão, que ela poderia comer do “fruto da árvore da ciência”, o qual havia sido proibido por Deus de comer. Narrativa essa que deu origem ao pecado original.
Nos anos 60, do século passado, o título de uma canção do cantor baiano Caetano Veloso, traduz isso de forma clara: “É proibido, proibir!”. A música afirma na letra que tudo que é proibido, é mais gostoso e irresistível, não adiantando impedir ou refrear a ação.No entanto, para Deus nada é impossível, a pregação deve ser insistente, pois é Deus que converte os corações destruídos pelo pecado.
Monteiro Lobato, famoso escritor paulista de Taubaté, dizia que uma sociedade se faz, com homens e livros – não de “espiadinhas” e frivolidades (acréscimo meu). Recomendo algumas alternativas a programas como o Big Brother e “A Fazenda”, pode ser um passeio num parque, ir a cinema, ocupações pastorais, ir a um bom teatro, ler um livro, se dedicar a um estudo bíblico, estudar catecismo, dentre outras coisas.
Muitos poderiam dizer “Este blogueiro está defendo coisas politicamente corretas”!Sim, estou defendendo o politicamente correto, pois acredito que uma família cristã, tem de ser “Sal da Terra e Luz do Mundo”, tem de se esforçar a dar exemplo a seus filhos e a humanidade.As palavras edificam, mas os exemplos arrastam multidões.