terça-feira, 5 de março de 2013

Hugo Chávez morreu: Devemos ter compaixão por ele ou pelas vítimas do regime bolivariano?


Leniéverson Azeredo Gomes


A Quaresma é um tempo de conversão, onde, dentre outras coisas nos convida a prática espiritual da caridade, do amor e da compaixão com o próximo. Mas há casos em que há exceções.
Bom, como se sabe, a imprensa brasileira e internacional noticiou, às 19 horas, horário de Brasilia, a morte do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, (foto) aos 58 anos. Ele vinha, há pelo menos 2 anos, lutando contra  canceres de tumores, chegando a buscar tratamento algumas vezes em Havana, capital de Cuba.
Hugo Chavez Frias, antes de ocupar a cadeira da presidência em 1999, era um militar de alta patente do exército venezuelano, onde em 1992, já havia tentado um golpe para derrubar o então presidente Carlos Andrés Perez, mas não logrou êxito.
Eleito, Chavez implementou a doutrina Bolivariana, a qual ele sempre dizia que era “um socialismo do século XXI”. Mudou a constituição 4 vezes, para ampliar seu poder político, criou medidas populistas, reduziu alguns indicadores sociais – dizem alguns especialistas, embora seja questionável -, criou um plebiscito para que fosse eleito varias vezes, foi critico do neoliberalismo e questionava duramente os Estados Unidos, dentre outras coisas.
Mas provocou desabastecimento, principalmente nos postos de gasolina, a inflação ficou lá nas Astúrias, etc.
O agora falecido líder venezuelano aparelhou o judiciário, as forças armadas e, sobretudo, mandou fechar todas as emissoras de TV que se opunha ao Regime Bolivariano. Chavez, inspirado em Fidel Castro – seu “cumpañero cubano”, fez com que grande parte da Venezuela e os Venezuelanos tivessem uma idolatria a sua imagem. Para isso, como disse acima a adoção de politicas populistas, que davam a ele.
Tratava a oposição com muita violência, inclusive mandava matar, mas ele sempre desafiava a imprensa internacional a provar esse discurso. Em 2012, foi reeleito presidente com 54% dos votos, tendo como vice-presidente, o Nicolás Maduro, este que foi, junto com o Ministro da Informação, Ernesto Villegas  o porta-voz para o mundo sobre as notícias – desencontradas – sobre a saúde do líder Chávez.
Não é a toa que ela, Chavez, virou referência para todos os lideres da America Latina, como o Evo Morales (Bolívia), Christina Kirchner (Argentina), Rafael Corrêa (Equador), o ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva e a atual presidente Dilma Roussef. Que alias, protagonizaram um verdadeiro papelão ao entronizar a Venezuela no MERCOSUL, após ter retirado o direito do Paraguai de votar. Todos devem estar se lembrando de que, a assembleia nacional paraguaia destituiu o então presidente Fernando Lugo por causa de várias acusações, dentre elas corrupção. Os membros do bloco político consideraram um o fato um “golpe” de Estado e, usou isso como bode expiatório para retirar o país do bloco e colocar a Venezuela no bloco, após anos de tentativa frustrada devido à negativa paraguaia.
A cobertura da morte do Hugo Chavez falou do seu autoritarismo, das suas formas nada democráticas para se perpetuar no poder, mas parece criar uma dimensão mítica, quase divina, quando na verdade, deveria ressaltar seu caráter totalitário, absolutista, onde transformou o Estado como se fosse propriedade dele.
Como eu disse, no primeiro paragrafo, prefiro ter mais compaixão dos cidadãos de bem que perderam seus entes queridos, martirizados por Chavez e, por cada colega de Jornalismo que teve seu direito ao exercício a informação cerceada, a ter dó pelo próprio líder venezuelano.
Professores de Relações Internacionais e de Ciências políticas esperam que o juízo se faça, e promovam novas eleições, mas se sabe que a simbiose entre o Bolivarianismo e o povo poder ser o principal entrave para a mudança real como ela deve ser, mas eu espero que novos ares soprem para aquele povo tão sofrido.

Perdão: Um óleo lubrificante que nos permite reconciliar com Deus e os irmãos.


Leniéverson Azeredo Gomes


     Todo mecanismo motorizado para funcionar bem, é preciso, sobretudo, que suas engrenagens estejam em bom estado e bem lubrificado com óleo especial. Desta forma, as duas rodas dentadas superpostas entre si não travarão e poderão fazer com que a máquina possa estar a serviço do usuário.
O evangelho litúrgico desta terça-feira (Mt 18, 21-35) aborda de forma intensa, precisa e cirúrgica, uma questão muito importante que, se não trabalharmos bem, também pode emperrar a engrenagem que impede a máquina movimentadora da relação entre os seres humanos: o perdão.
Perdoar de coração revela um desejo de viver uma busca por um esmero nas relações vertical (entre o homem e Deus) e na relação horizontal ( entre o homem e o próximo). Não é a toa que a Boa Nova, estabelece que a verdadeira clemência é aquela feita “setenta vezes sete” (v.22), ou seja, para sempre. O dispositivo legal que regula a forma segura para dar o perdão foi definido pelo próprio Jesus Cristo, após o apóstolo Pedro ter feito uma pergunta que eu ou você faríamos diante da preocupação com as consequências de ações ruins praticada por segundas e terceiras pessoas humanas para conosco.
A teologia aponta que o número 7 significa perfeição. Não se deve achar que, com isso, a Igreja Cristã aderiu a prática herética da numerologia, muito pelo contrário a eclesiologia rejeita. A proposta da utilização de números vem de encontro a necessidade urgente de fazer o evangelho ser entendido. E no caso em tela, o 7, além de ter um sentido de requinte ou perfeição,  define que o verdadeiro perdão é dada com o respaldo divino.
Certa vez, São Cipriano de Cartago, um dos Padres da Igreja (Patrística), disse algo muito profundo que segue exatamente o raciocínio da busca incessante pelo vínculo da perfeição e o espírito da unidade:
“Deus não aceita o sacrifício dos que fomentam a desunião; Ele ordena que se afastem do altar para primeiro se reconciliarem com seus irmãos: Deus quer ser pacificado com orações de paz. Para Deus a mais bela obrigação é nossa paz, nossa concórdia, a unidade no Pai, no Filho e no Espírito Santo de todo o povo fiel”.
A parábola do servo cruel, trabalhada liturgicamente hoje, nos mostra essa ideia. Um rei perdoou as dividas altíssimas de um servo, mas este servo não perdoou a divida de um companheiro, que também era servo do rei, mandando-o para a prisão. O rei, que deve ser entendido que é o próprio Deus, sabendo por terceiros sobre a crueldade do servo, ficou encolerizado e colocou esse “servo mau e cruel” diante da prisão até que pagasse a dívida e soltou o outro.
É “assim que nos tratará o Pai celeste, caso cada um de nós não perdoarmos o nosso irmão, de todo o coração” (v.35). Não estranhe essa pedagogia de Deus. Pois a medida da ação que nós medirmos, Deus medirá com a mesma proporção.
Caros irmãos em Jesus Cristo, perdoar é também um ato de caridade, um ato de amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Perdoar não significa, de forma definitiva, esquecer o que A ou B fez, mas sim, fazer com que as engrenagens possam voltar a funcionar com qualidade e; vínculo de perfeição. Viver com o coração carregado de rancor não compensa, pois faz mal a saúde.