quinta-feira, 29 de março de 2012

Alguns aspectos importantes sobre as Universidades Católicas - Capítulo II

Leniéverson Azeredo Gomes

No post anterior, um comentarista chamado Jeremias, me chamou atenção para o fato de que eu havia me esquecido de colocar no meu texto, que as Universidades Católicas têm o direito de serem católicas. O leitor,  em tela,  não se atentou que, embora em muitos países que tem universidades católicas, e, tenham que ser fiscalizadas por órgãos federais que cuidam da educação, as mesmas tem o “RG”, uma identidade, uma cara, um perfil próprio que respira catolicidade.
Mas tem gente que insiste não enxergar isso, veja outro exemplo bem atual e que está em andamento. Este blog está se referindo a Pontifícia Universidade Católica do Peru, com sede administrativa em Lima. No território peruano, existem 9 universidades católicas, sendo que uma é pontifícia, só para se ter uma ideia, no Brasil, há 16 universidades católicas, sendo 7 pontifícias, destas, duas apresentam notícias de desobediência mais graves a “Ex  Corde Ecclesiae”  – PUC-SP e UNICAP – diz-se mais grave, pois nas restantes, há uma nota aqui e ali de intercorrências sobre elas, mas nada frequente, apesar de que também mereçam uma operação cirúrgica eclesial.
Bom, a PUCP, como é conhecida a Pontifícia Universidade Católica peruana, está em processo de intervenção da Santa Sé. Das supracitadas 9 universidades peruanas, esta única problemática. Fundada pelo padre da congregação do Sagrado Coração de Jesus, Jorge Dintilhac em 1917, e proclamada de direito pontifício em 1942, a PUCP vem há muito tempo demonstrando certa rebeldia. Segundo o site da Universidade  do Vale dos Sinos do Rio Grande do Sul (Unisinos) – também católica, “estudaram na PUCP,  personagens representativos da dissidência social e política do Peru, da esquerda radical e do "progressismo católico". Um dos catedráticos mais conhecidos era Gustavo Gutiérrez Merino: sacerdote dominicano conhecido como o pai da "teologia da libertação" e cuja obra foi levada mais de uma vez sob o olhar do Vaticano, mas sem nunca ter sido condenada pelo ex-Santo Ofício”.
 
Entrada da Pontifícia Universidade Católica Peruana

Para a Santa Sé, esse problema acontece há pelo menos, 10 anos, e que algo precisava ser feito para corrigi-lo. O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcísio Bertone, enviou a Lima, capital peruana, em dezembro de 2011,  o Cardeal Peter Erdö, arcebispo de Esztergom-Budapest (Hungria), uma personalidade reconhecidamente autorizada do mundo católico europeu e homem de confiança do Papa e, junto irão dois especialistas em direito canônico de universidades católicas.


Cardeal Peter Erdö

      Cardeal Erdö   



Cardeal Tarcísio Bertone
             
Membro das congregações para a Educação Católica, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos e do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica, o Cardeal Erdö e seus auxiliares ficaram duas semanas, hospedados na nunciatura apostólica peruana.
Ele  perguntou, escutou e tomou notas. Não acusou, nem favoreceu nenhuma das partes; ofereceu uma oportunidade para que todos deem sua própria versão. Assim, com todos os dados recolhidos, voltou à Hungria a fim de retomar suas atividades pastorais, e já em território húngaro, dedicou parte do seu tempo à redação de um relatório minucioso, com propostas concretas e que entregou ao Vaticano.
                O cardeal húngaro encontrou um cenário muito tenebroso. Quando esteve com as autoridades eclesiásticas, dentre elas, o reitor da Pontifícia Universidade Católica do Peru, Marcial Rubio, disse que “se as autoridades universitárias não aceitassem a autoridade vaticana, a própria universidade sofreria uma pesada desclassificação: substancialmente, não poderia mais ostentar o título de "católica" e muito menos o de "pontifícia"
Reitor Marcial Rubio 
                No entanto, o reitor da universidade, ao ser convocado para uma audiência no Vaticano, demonstrou ao Cardeal Erdő que não teme as "ameaças" vaticanas e até convidou o purpurado a voltar atrás: Lima prefere não modificar nada e permanecer independente de Roma, apesar de se declarar universidade "pontifícia".
Ficou claro para o Vaticano a insubordinação, a insubmissão, a rebeldia do Magnífico Senhor Reitor Marcial Rubio e, sem escolha, a Santa Sé foi obrigada a dar um ultimado “ os estatutos da PUCP devem se adequar à Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae", sob pena de se não obedecido estas condições,  até o domingo de Páscoa, 8 de abril, sofrerá sanções que inclui a perda do caráter pontifício e católico.
Representantes do corpo discente (de alunos), do corpo docente (de professores) e ex-alunos da PUCP, pediram ao centro de estudos que adaptem os seus estatutos à Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae. Em comunicado escrito por eles e encaminhado ao portal de notícias católicas “ACI Digital”, “Associação Universitária Riva Aguero”, que leva o nome do principal benfeitor da PUCP chamou os membros da Assembleia Universitária da casa de estudos "a dar aceitação completa ao pedido feito pela Santa Sé, pois a existência da Universidade não seria compreendida sem o esforço da Igreja Católica".
Esta organização, dessa forma, assinalou o pronunciamento, buscando "promover plenamente a defesa inquebrantável da vontade dos fundadores da PUCP, expressa na consagração institucional à Igreja Católica e sua dependência à Santa Sé". A Igreja, como foi claramente notado pelos membros da comunidade universitária “sob o amparo das liberdades religiosas existentes hoje em toda a sociedade democrática tem o direito de criar instituições educativas em harmonia com os princípios da fé e do seu Magistério"
     Bom, vamos aguardar até o dia 8 de abril para ver quem ganha a queda de braço, espera-se que o Vaticano vença. No próximo artigo, este blog traçará um paralelo, entre a insubordinação ou insubmissão dos reitores das Universidades Católicas e a Santa Sé e entre a relação de funcionários de qualquer escalão de uma empresa qualquer com filosofias, estatutos, regras, entre outras orientações profissionais da mesma e suas consequências se for desrespeitados.