Do Blog Catedrais Medievais
Para os construtores de igrejas, diz Dr. Rose, as
palavras de Cristo são normativas. E o Divino Mestre ensinou no Sermão das
Bem-aventuranças:
“Não pode se esconder uma cidade que está situada
sobre um monte. Nem os que acendem uma luzerna a metem debaixo do alqueire, mas
põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos que estão na casa”
(Mt 5, 14-15).
Por isso, a igreja não pode ficar dissimulada ou
escondida. A igreja tem que sobressair no panorama. Esse destaque deve ser
audível também.
Os sinos lembram a presença de Nosso Senhor na
Terra, convocam à oração, marcam os acontecimentos transcendentais da vida,
espantam os demônios.
Porque é sagrada, a igreja tem uma superioridade
natural sobre os prédios profanos que a circundam. O bom encaixe estético e
hierárquico foi bem alcançado com uma transição harmônica.
Onde possível, uma praça ou um largo, que pertencem
à esfera temporal, faz o primeiro espaço de transição. Logo vem o átrio, pátio
aberto que lembra o átrio do Templo de Salomão, e que pertence à igreja.
A fachada é o rosto da igreja. Ela evangeliza,
ensina, catequiza.
Na Idade Média, bastava ao catequista explicar o
significado das inúmeras estátuas e cenas entalhadas na pedra, para dar aulas
perfeitas sobre as verdades fundamentais da fé, as virtudes e os vícios
opostos, a História Sagrada, a ordem do Universo, a hierarquia das ciências,
etc.
No coração da fachada de Notre Dame encontra-se a
rosácea. Ela forma a coroa da Santíssima Virgem.
A rosa é emblema de Nossa Senhora. Na Idade Média,
quase todas as catedrais foram dedicadas à Mãe de Deus.
A rosácea é denominada “olho de Deus”, porque
antecipa a visão beatífica.
Representa também a perfeição, o equilíbrio e a
harmonia da alma purificada, que se prepara para ingressar no Reino Celeste
eternamente.
A nave, símbolo da Arca da Salvação e da
maternidade da Igreja.
O nártex (vestíbulo sob o coro) é o primeiro espaço
sagrado da casa de Deus. Também é conhecido como galilé, porque dali parte a
procissão que, no início da Missa, dirige-se até o altar, simbolizando a
jornada de Cristo desde a Galiléia até Jerusalém, rumo ao sacrifício do
Calvário.
No nártex, a água benta lembra o batismo, a
necessidade do perdão dos pecados, e tem efeito exorcístico sobre o demônio e
as tentações.
A nave encarna a “Arca de Salvação”. A Igreja, Ela
própria, é essa arca, a Barca de Pedro. Simboliza também o seio materno, pois a
Igreja gera as almas para o Céu.
Ela é ainda imagem do Corpo Místico de Cristo posto
a serviço de sua cabeça: Deus Nosso Senhor. Um famoso diagrama coloca o
Crucificado sobre a planta de uma igreja típica.
Sua divina cabeça repousa no presbitério, os braços
no transepto, o corpo e as pernas na nave. As colunas da nave representam os
Apóstolos, e as colunas do cruzeiro simbolizam os quatro Evangelhos.
Os genuflexórios servem para a posição corporal
essencial do culto: a genuflexão, que é própria da adoração, necessária para se
obter o perdão dos pecados.
São Carlos Borromeo recomendou que os
confessionários sejam situados nas partes laterais da igreja; que o penitente
nele esteja ajoelhado, separado do confessor por uma tela, numa posição onde
possa ver o presbitério.
O púlpito, de preferência hexagonal, encontra-se no
lado norte da igreja, à direita de quem entra.
Como no hemisfério setentrional o norte é o lado
menos luminoso, simboliza as trevas, a barbárie e o erro, que os sermões devem
dissipar, ou devem ser eliminados pela pregação destemida das verdades
evangélicas.
Também no lado norte deve situar-se a pia batismal,
pois as crianças que ali chegam ainda não pertencem à Igreja.
As igrejas devem apontar para o Oriente, pois de lá
veio o Salvador, e por ali chegará em sua segunda vinda, em pompa e majestade.