quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Panfletos, ameaças de morte e mentiras. Um retrato das eleições.

Do Site Eclesia Una



Este ano, as eleições fizeram uma verdadeira divisão no episcopado brasileiro. Nos últimos dias, a discussão acerca da posição dos candidatos à Presidência sobre a descriminalização do aborto vem sendo acalorada pela mobilização dos católicos brasileiros, que, fiéis às condenações da Igreja à prática do aborto, têm distribuído panfletos pró-vida em todo o país alertando as pessoas de bem ao perigo do voto em candidatos comprometidos com a cultura de morte.

No centro da discussão está o bispo de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini. Mais de um milhão de panfletos pró-vida do Regional Sul 1 da CNBB foram apreendidos em gráfica paulista pela Polícia Federal a pedido do Partido dos Trabalhadores. O responsável pela impressão dos panfletos era, segundo o dono do estabelecimento, o bispo da diocese de Guarulhos. E os panfletos não foram apreendidos só nessa gráfica de São Paulo, mas também em Campos do Jordão, graças à ação de um deputado petista que denunciou a distribuição do material à Polícia Civil. Os defensores do Partido dos Trabalhadores reclamam que as informações contidas no panfleto são “inverídicas e degradantes”.

Uma simples leitura do material nos leva a uma conclusão contrária à tirada pelos simpatizantes de Dilma.

A situação de conflito entre o tema que defende Dom Bergonzini e os interesses do PT rendeu ameaças de morte ao bispo paulista. “Recebi uma carta anônima com velada ameaça à minha vida, que já está nas mãos da polícia”, escreveu o pastor, em carta divulgada na íntegra pelo Fratres in Unum. Nessa mesma carta, Dom Luiz chama a atenção de seu irmão no episcopado, Dom Demétrio Valentini. Ele escreve: “Parece que há Bispos da Igreja Católica, no Brasil, que estão trocando o Evangelho do Senhor pela política partidária e por amizades pessoais”. Dom Demétrio, por sua vez, rebateu, afirmando que “de maneira muito injusta” o bispo de Guarulhos lhe acusava. “E ainda por cima declara que não está fazendo política”, concluiu o bispo de Jales, o mesmo que há alguns dias atrás assinou um documento defendendo a candidatura da petista Dilma Rousseff.

A coragem de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, no entanto, é grande, e o pastor paulista não esmorece: “Diante desses fatos, sou obrigado a enviar uma reclamação ao Papa Bento XVI, imediatamente, com toda a documentação, pedindo-lhe que tome as providências que julgar cabíveis e necessárias, para reorientar a Igreja Católica Apostólica Romana no Brasil, inclusive me orientar, se eu estiver agindo em desconformidade com o Evangelho.”

Enquanto o clima esquenta na Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil, o Jornal Nacional entrevista os candidatos à Presidência da República. Ontem, segunda-feira, Dilma Rousseff foi novamente questionada sobre sua posição a respeito da descriminalização do aborto. E ela foi enfática, mais uma vez:

“O que é que acontece com o presidente da República? Ele não pode fingir que não existem milhares de mulheres, principalmente, até milhões, pelos dados até publicados pelo [jornal O] “Globo” são milhões de mulheres, três milhões e meio de mulheres que recorrem ao aborto. Nós não podemos fingir que essas mulheres não existem. E mais: não podemos fingir que essas mulheres, elas fazem isso em situações muito precárias, e provoca, recorrer ao aborto provoca risco de vida e em alguns casos a morte. Pois bem, a minha posição sempre foi a seguinte: você não pode colocar essas mulheres, prender essas mulheres. Não se trata de prender as mulheres, se trata de cuidar delas. Porque você não vai deixar três e meio milhões de mulheres ameaçadas a sua saúde. Então são duas posições diferentes. Quando a gente diz que o aborto não é um caso de polícia, no Brasil ele é um caso de saúde pública, o que que nós estamos falando? Nós estamos falando o seguinte: para prevenir para que não haja o aborto, primeira questão, nós temos que tratar a quantidade imensa de gestantes adolescentes que recorrem ao aborto ou porque têm medo da família, da família não aceitar, ou porque já não têm laços familiares efetivos que podem garantir a ela o apoio pra poder ter a criança.”- Dilma Rousseff no Jornal Nacional-18 de outubro de 2010


O discurso petista mais uma vez montado sob uma ótica feminista, que deixa de considerar a dignidade do ser humano presente ali, no ventre da mulher grávida, só evidencia os contrastes existentes entre o movimento pró-vida e a tentativa de implantação da “cultura de morte” em nosso país. Tudo está muito nítido. Há muito tempo. Alguns bispos fecham os olhos a essa realidade e ainda acusam os companheiros que não se omitem de “partidarismo”. Dom Luiz Bergonzini, ao condenar o voto em candidatos abortistas e citar os nomes das pessoas comprometidas com essa bandeira não está sendo partidário. Aliás, ele nunca citou, em nenhum documento, apoio a José Serra. Posição bem diferente foi a tomada por bispos como Dom Eugênio Rixen e Dom Demétrio Valentini, ambos de Goiás, que declararam, um de forma implícita e o outro de maneira explícita, o seu apoio à candidata Dilma, do PT.

A teimosa insistência de chamar de boatos aquilo que está documentado como verdade e o considerar o aborto uma questão secundária, um assunto que não merece prioridade, são amostras de como o jogo de interesses políticos é sórdido e como a vida humana é banalizada. A mentira se tornou o centro do espetáculo.