Pois é, minha gente, mais um daqueles textos, de minha autoria, ou seja, de Leniéverson Azeredo Gomes, que é necessariamente grande, desta vez sobre o período quaresmal, tenham paciência e boa leitura.
Assim como o
Advento, a Quaresma é um tempo litúrgico penitencial, que nos exorta a
metanóia, ou seja, uma conversão. A
Igreja Católica, além das Vias-Sacras que nos remete passagens ligadas a paixão
e morte de Cristo, nos oferece três práticas espirituais, que também podem ser
chamadas de pilares, onde a nossa busca
pela mudança de vida pode ser sustentada : jejum, esmola ou caridade e oração.
Esses pilares
ou práticas espirituais, para ser bem feitas e ter uma boa sustentação em
nossas vidas, depende, é claro do nosso querer e da nossa perseverança. Nesse
artigo, esses três vetores que nos levam ao encontro com Jesus, serão
esmiuçados sob um ponto de vista mais didático para tentar te ajudar a viver
bem este tempo convidativo.
Quando
queremos fazer um exercício ou uma atividade física de alto rendimento, uma das
coisas mais ajuizadas a fazer é, procurar um médico. O profissional de saúde, a
partir de uma bateria de exames, vai definir se você está apto para fazer esta
ou aquela atividade física, definindo a intensidade dos exercícios que se
ajuste ao seu metabolismo, ou se você não está apto para fazer.
É a mesma
coisa, no sentido religioso, para sabermos qual é o melhor caminho para viver
bem o tempo Quaresmal, requer, é claro a consulta de um médico, na verdade o
Médico dos Médicos, que é Jesus. O Messias, sendo doutor em salvação irá
promover, com o nosso querer e decisão, curas interiores, que para serem
mantidas, exigem perseverança – leia-se manutenção -.
Agora, quando
se trabalha o conceito de cura, não se deve
pensar no conceito de que algo esteja doente fisicamente. Em geral, o
estudo sobre as questões quaresmais trabalha com o conceito de doença
espiritual, ou seja, com aquilo que está manchando o coração do homem e da
mulher, manchas estas que impedem com que o ser se reconcilie com Jesus. Daí
vem o sinônimo para designar penitência: a Reconciliação.
Amados, Jesus
não vem para os sãos ou pessoas que acham perfeitas, vêm para aqueles que possuem seus corações manchados e que desejam a Salvação. São os pecadores. A
Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, afirma que é o pecado, dentro do
conceito de mancha, “é uma ofensa a Jesus, uma ruptura da comunhão com Ele
(...) e ao mesmo tempo, um atentado à comunhão com a Igreja”.
Pecador é
aquele que reconhece sua pequenez diante de Jesus, que conclui que precisa
sacramentalmente se reconciliar com Jesus. Além do Sacramento da Confissão, que
o meio reconciliador e litúrgico, por excelência, temos a vida de oração.
A oração é
muito mais que um diálogo com Jesus, é um orar em ação. Conversamos com Jesus,
mas parte-se do pressuposto de que iremos agir. Os santos tinham um conceito
muito particular e intimista de oração. São João Damasceno (foto acima), por exemplo, dizia
que a oração era um “elevar de alma a Jesus e um pedido a Ele para que se tenham
bens convenientes” e não bens que não se merece. Já, Santa Terezinha do Menino
Jesus (Foto acima) afirmava que orar é “um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao
Céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da
alegria”.
A Oração nos
ajuda a fortalecer a nossa fé, nos auxilia a fazer a segunda prática espiritual
ou construir em nós, outro pilar quaresmal: o jejum.
O jejum,
apoiado na oração constante, contribui para nos fazer adquirir o domínio sobre
nossos instintos e a liberdade de coração. A Igreja considera o jejum, além das
coisas citadas por mim, um mandamento, o de número 4. Diz expressamente, que
devemos exercitar essa prática e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe
Igreja. Do cânone 1249 até 1253, do Código de Direito Canônico, ensina ao
Cristão Católico, como fazer um autêntico
e adequado jejum para cada pessoa.
Mas jejuar não
se restringe a abstenção de carne, outro tipo de alimento ou bebidas sejam elas
alcóolicas ou não, a prática tem a ver com a diminuição do que se vê, em termos
de programas de televisão, diminuir as idas em baladas, falar menos, dentre
outras coisas. É o conceito da mortificação, ou seja, morrer para si mesmo.
Abraçar a cruz de Cristo, após renunciar aquilo que leva ao pecado. Assim, como
na prática espiritual da oração, os santos nos ensinam uma pedagogia muito valiosa sobre o jejum, a
partir do processo da mortificação.
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São Domingos Sávio |
São Domingos
Sávio, por exemplo, dizia que “antes morrer, do que pecar”. A filosofia
“saviana” tem uma característica empresarial. Explico. Uma empresa tem metas de
produtividade. Metas essas, que objetivam buscar a liderança do mercado dum
determinado ramo de atividade. No caso de São Domingos Sávio, havia e há duas
diferenças conceituais em relação as empresas. A busca pela santidade não tinha
objetivo de concorrer com outros santos. São Domingos Sávio competia consigo
mesmo. Além disso, o santo não tinha como meta ganhar dinheiro com a amostra de
mortificação radical, tinha como meta a vida eterna, ou seja, o céu.
“O Reino dos Céus
é arrebatado a força e são os violentos que o conquistam”, este texto do
evangelho de São Mateus, capítulo 11, versículo 12, caracteriza, dentre outras
coisas, a atitude de santos, como São Domingo Sávio. A oração produz força para
fazer jejum, o jejum requer mortificação e a mortificação é um dos pilares das
atitudes que levam ao martírio hagiológico, ou seja, ao martírio dos santos.
São Domingo
Sávio, Santa Maria Goretti, Beata Albertina Berckenbroker, Santa Inês, Santa
Luzia, Santo Estevão, São Maximiliano Maria Kolb (todos em ordem horária nas fotos), foram santos que se deixaram
martirizar, cada qual a sua maneira, pagaram com a vida, para mostrar
obediência e fidelidade a Jesus.
Nossos irmãos
protestantes, que é sabido, não reconhecem a importância da intercessão dos
santos, vê o martírio apenas como e, simplesmente, um elemento de perseguição
religiosa. Para o catolicismo, o martírio é “o supremo testemunho prestado à
verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte. O mártir dá
testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade”,
Catecismo da Igreja Católica (CIC), Cân nº 2473.
Se os santos
buscavam uma vida em direção ao Senhor pela caridade, nós também devemos ser fiéis
ao senhor pelo amor, pela via caritativa. Para a encíclica “Deus Caritas Est”,
escrita pelo Papa Bento XVI, afirma que “o amor de Deus por nós é questão
fundamental para a vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem
somos nós” e que quando se fala de amor, fala-se de “amor da pátria; à
profissão; entre amigos; ao trabalho; entre pais e filhos; entre irmãos e
familiares; ao próximo e; a Deus”.
O primeiro
documento do Papa diferencia o amor “Eros”(sexo) do amor “Ágape” (caridade
exigente). Categoricamente, o período quaresmal anuncia e propõe a toda
comunidade de fiéis um amor ágape e, mais: sugere aos crédulos que essa forma
caritativa seja considerada uma virtude teologal. Uma virtude teologal “fundamenta,
anima e caracteriza o agir moral do cristão. Informa e vivifica todas as
virtudes morais. É infundida por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes
de agir como seus filhos e merecer a vida eterna”, Catecismo da Igreja Católica
(CIC), cân. nº 1813.
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São Tiago |
A pedagogia
quaresmal orienta que nesse período o fiel deve demonstrar a caridade através de
obras caritativas. Porque considera, a partir de uma leitura do livro bíblico
de São Tiago, o fato de que se a pessoa diz ter fé (outra virtude teologal) tem
também de mostrar obras. Oras, se o ser diz ter fé, então que mostre as obras.
Para tornar mais claro, as obras de caridade, igualmente chamado de misericórdia,
são as ações pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e
espirituais. As necessidades espirituais são: instruir, aconselhar, consolar,
confortar, perdoar e suportar com paciência. As necessidades corporais consistem
em: dar de comer a quem tem fome, dar de beber em quem tem sede, dar moradia
aos desabrigados, vestir aos maltrapilhos, visitar os prisioneiros e sepultar
os mortos. Além disso, pode se considerar uma necessidade corporal e gesto de
misericórdia, a esmola dada aos pobres. Enfim, são coisas que agradam a Deus.
Concluindo, o
tempo quaresmal não é um período de julgamentos humanos; de viver para si
mesmo; de uma introspecção do ego; de individualismos, dentre outras coisas. É
tempo de renúncias, de revisão de vidas, permitir que Deus mexa com as nossas
estruturas. De ter mais fé, mais esperança no Pai celestial, mais confiança. De
confessar nossos pecados, para ter nossa alma lavada. De se buscar uma vida
melhor de oração para dialogar com o sagrado. E, acima de tudo, ter um coração
mais voltado ao próximo do irmão (dimensão horizontal) e mais próximo de Deus (dimensão
vertical).