Leniéverson Azeredo Gomes
Você deve estar estranhando esse artigo ser postado com quase um mês de atraso, mas foi proposital. Um mês após a morte de Chorão, nada mais se fala sobre o cantor, que foi encontrado morto em um apartamento, na capital paulista.
O músico era
uma referência para muitas pessoas, sobretudo na faixa etária entre 14 e 30
anos. As composições dele eram verdadeiras poesias, mas para alguns amigos e
familiares, o vocalista estava vivendo uma forte depressão. Recentemente, havia
se separado da esposa, com quem teve um filho, hoje com 21 anos. Segundo alguns
especialistas no setor fonográfico, o Chorão tinha ainda muitos anos de
carreira e, sua morte, deixará um vazio muito grande no cenário artístico.
Essa estória
lembrou a minha adolescência, quando vi lideres de bandas sucumbirem às drogas.
Em 1994, o vocalista da banda de rock americana, Nirvana, Kurt Cobain, foi
encontrado sozinho em um apartamento na cidade de Seattle, num surto psicótico,
por causa das drogas, deu um tiro na própria cabeça.
Outros
artistas igualmente talentosos como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Amy Winehouse,
Whitney Houston, Mitchell Hutchence (Vocalista do INXS), em comum, morreram
sozinhas em apartamentos por algum efeito ou consequência pelo uso de
entorpecentes. É a conhecida e complexa
relação Sexo, Drogas & Rock in roll.
Cada um desses
artistas possuem duas pessoas dentro de si mesmas. A pessoa midiática e a
pessoa física. A pessoa midiática, normalmente é aquela existente do ponto de
vista dos fãs, do meio fonográfico, dos meios de comunicação especializados, dos
colegas de profissão musical – sejam eles cantores, instrumentistas ou
produtores artísticos. Via de regra, a pessoa midiática é considerada,
sobretudo para os fãs e a imprensa como uma figura idolatrada, exercendo assim,
a figura de um Deus na mídia. É muito comum encontrar, no caso de músicos que
cantam ou tocam rock – desde que sejam ótimos – os títulos de Papas do Rock,
Dinossauros do Rock, Lendas do Rock, Mitos do Rock, dentre outros.
A pessoa
midiática é aquela que constrói um mundo particular e muitas vezes considerado
por muitos, um universo glamouroso. Afinal são entrevistas e apresentações
musicais na televisão, rádio, jornal e internet; participações em anúncios
publicitários; não raro chamados para campanhas de cunho social, etc.
Grosso modo, a
pessoa midiática que toca ou canta em uma banda de rock, exerce na juventude, o
principal consumidor desse tipo de ritmo musical, uma gama de influência sobre
a mesma, seja no modo de se vestir, no modo de falar, nos trejeitos gestuais,
formam tribos, entre outras coisas.
A minha
geração de adolescente, nos anos 90, assistiu a perda do Kurt Cobain e do
Mitchell Hutchence e, assim, como nos dias atuais muitos eram atraídos pela
vontade de assistir os shows, até brigar com os pais para ir ás apresentações,
enfim, gostar de uma banda de rock era uma questão de atitude, de transgressão
e de rebeldia.
Viviamos e
respirávamos a moda grunge – camisas largas com estampas de bandas de rock, caveira
ou relacionada a algum filme de terror, bermudas quadriculadas até um pouco
abaixo do joelho, brincos na orelha ( no caso masculino) -. Todos aqueles que
seguiam esse visual ‘transado’, era aceito pela tribo e imediatamente era
chamado de sujeito deschavado ou dischavado.
Havia bandas
de garagens, onde músicos juvenis manifestavam seu talento musical em pequenos
espaços dentro da residência de algum dos componentes ou em algum lugar
alternativos. É verdade e é preciso ser justo, que nem todo mundo usava drogas,
mas sim uma maioria conceitual que emporcalhava o corpo com drogas lícitas e
ilícitas.
Recordo-me de
ter visto vários colegas, adolescentes como eu, à época, que usavam cheirinho
de loló, lança-perfume, maconha, cocaína, e, drogas lícitas como a bebida
alcoólica e cigarro. Já perdi amigos de infância por causa de overdose ou
dívida de tráfico. Era de cortar o coração.
Normalmente,
nós temos uma dificuldade de perceber que o ser que canta ou toca, além de ter
dentro de si a pessoa midiática, tem a pessoa física. Pessoas físicas,
normalmente tem um nome de batismo, tem família, têm sentimentos, carências,
necessidades, busca por transcendência – aquela em que a pessoa procura um
sentido a vida -, dentre outras coisas e questões.
Por trás do
apelido, que foi dado em um dos ambientes que ele mais amava, que era a pista
de skate, havia o Alexandre Abrão, uma pessoa que apesar do óbvio amor da
família, possuía dentro de si, um vazio espirituais sem tamanho. Rodolfo
Abrantes, ex-vocalista do Raimundos – que ‘chocou’ o país, pasme, por dizer que
se converteu ao cristianismo -, e, amigo
de Chorão, tinha aconselhado ao cantor, nascido em Santos/SP, a procurar uma
igreja: sem sucesso.
Músicos como o Chorão, não era só uma pessoa
midiática, portanto, famosa. Chorão era uma pessoa física, humana, mas que não
soube administrar seus dramas internos.No mundo do Rock, é preciso tirar o véu
da hipocrisia, não tentar varrer o problema para debaixo do tapete, como fez,
por exemplo, o vocalista dos “Detonautas”, Tico Santa Cruz que, dentre outras
coisas, criticou negativamente, a postura da imprensa por postar fotos pos-mortem
de Chorão com substâncias duvidosas. Oras, pessoas públicas são públicas e,
quem está na chuva é para se mulher. Quem não quer ser pessoa pública, que não
entre numa carreira artística, ora bolas.
O que não se
pode é dar chiliques, fazer de conta que o envolvimento de artistas, com o
mundo das drogas é só um detalhe. Não é, e mais quem é ídolo de uma geração,
deveria assumir a responsabilidade de, aproveitar a morte de um dos seus, para colocar,
emprestar seus rostos em campanhas contra o uso de drogas e não de Movimentos
do tipo “Eu preciso mudar” que, grosso modo, quer liberar e descriminalizar o
uso e a venda de drogas.
Caso
contrário, a cada morte de um cantor, seja lá qual for o ritmo músical, por uso
de drogas, seremos obrigados dolorosamente a cantar com adaptação ¯Meus heróis estão
morrendo de overdose e os nossos inimigos estão no poder. Ideologia, eu quero uma
pra viver....¯