Leniéverson Azeredo Gomes
Vem aí, mais um campeão de audiência! Antigamente era assim, que, emissoras de TV, como a Rede Globo anunciavam a programação que estava prestes a começar. E, como de costume, as famílias, em peso, se reuniam na sala, diante de uma caixa exibidora de imagens, de um mundo mágico e encantador.
As telenovelas, como parte da programação desse mundo mágico televisivo, exercem no ser humano, sobretudo as mulheres, um fascinante poder de atração, podendo-se dizer, hipnotizador. Muitas delas são capazes de ficar horas a fio, acompanhando as tramas que se desenrolam como um novelo. O produto da teledramaturgia, também acaba gerando modismo, definem formas de penteados, sugerem que marca de objetos deve-se usar, algumas formas de se falar, etc. Quem não lembra de bordões como: “To podendo”, da novela Torre de Babel; “Estou certo ou estou errado?”, da novela Roque Santeiro; ou “Sou moça de ‘catiguria’”, da novela Paraíso Tropical?
De certo, desde a primeira produção a ser exibida, na hoje extinta Rede Tupi, as novelas, como é mais conhecida às peças dramaturgica televisada, fizeram com que a sociedade venha sofrendo rápidas transformações sem precedentes na história. Nem quando, as radio novelas estavam no auge, nos áureos tempos da Rádio Cultura de Campos/RJ ou da Rádio Nacional no Rio de Janeiro, o Brasil sofreu tanta descontextualização ou deteriorização.
Só para se ter uma idéia, nas décadas de 70,80 e 90, do século passado, as novelas da Rede Globo, já atingiam 98% do território nacional, principalmente com advento das antenas parabólicas e a formação da cadeia de afiliadas e retransmissoras e, isso gerou conseqüências graves. Hábitos tipicamente rurais estão em rumo de extinção, havendo assim, a predominância de hábitos urbanos, como o de se alimentar de comidas rápidas, a exemplo de hambúrgueres do McDonald´s. Além disso, são acusadas de promover e ajudar na erotização de crianças e jovens.
Em 2008, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizou sob a chefia dos pesquisadores, Alberto Chong e Eliana La Ferrara, um estudo consistente sobre a influência das novelas na sociedade. Eles concluíram que, “a parcela de mulheres que se separaram ou se divorciaram aumenta significativamente depois que o sinal da TV Globo, se torna disponível nas cidades do país”. A analise conclui, também, que, “desde os anos 60, uma porcentagem significativa das personagens femininas, nas novelas, não reflete os papéis tradicionais de comportamento reservados às mulheres na sociedade”.
Ao produzirem a pesquisa, os estudiosos apontaram que, “62% das principais personagens femininas, das 115 novelas pesquisadas, entre 1965 e 1999, não tinham filhos e 26% eram infiéis aos seus parceiros” e, que, “a exposição a estilos de vida modernos mostrados na TV, a funções desempenhadas por mulheres emancipadas e a uma crítica aos valores tradicionais mostrou estar associada aos aumentos nas frações de mulheres separadas e divorciadas nas áreas municipais brasileiras”.
E a Igreja Católica?Como ela tem se posicionado sobre o assunto? Pois é, devido a essas questões ligadas a transformações, nitidamente agressivas das famílias e da sociedade, o catolicismo nos últimos 25 anos, pelo menos, vem aumentando o tom das críticas (negativas) sobre as novelas brasileiras.
A Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Renovação Carismática Católica Brasileira (RCC – Brasil) e o Conselho Nacional do Laicato Brasileiro (CNLB), três principais órgãos representativos do clero e dos leigos, têm demonstrado, filosófica, sistemática, dogmática, teológica e biblicamente aos fieis católicos, a importância e os porquês de se deixar de ver novelas. A Rede Canção Nova de Comunicação, ligada à comunidade da Renovação Carismática Católica de mesmo nome, desde quando, em 1997, colocou “no ar” seu sinal via-satélite, tem feito em 4 de suas 10 pregações realizadas no Rincão do Meu Senhor (espaço usado para a realização de palestras), uma série de alertas sobre os males que as novelas produzem na sociedade. Inclusive, no processo para se fazer parte dessa e, de outras comunidades da RCC, o postulante é proibido de ver novelas.
Para Antonio Oliveira Storel, coordenador diocesano do CNLB de Piracicaba-SP, a televisão, em especial as novelas, acabam acompanhando o dia-a-dia do “sujeito pensante”.”É Vale a Pena Ver de Novo, Malhação, Novela das seis, Novela das sete, Novela das oito, Novelas da Rede Record, do SBT, da TV Bandeirantes, as mexicanas da CNT, e , se tivesse novelas no domingo estariam lá acompanhando também e, por aí vai”, ele afirma.
Em 1972, a primeira versão de Selva de Pedra, estrelado pela então namoradinha do Brasil, Regina Duarte, e o ator Francisco Cuoco, registraram um dado surpreendente. O Almanaque da Rede Globo, uma publicação da editora que faz parte do mesmo grupo de comunicação da emissora de TV em que a novela foi exibida, afirma que a novela, obteve, 100% de audiência nacional
As novelas das seis e das oito da Rede Globo, respectivamente, “Escrito nas Estrelas” e “Viver a Vida”, por exemplo, é o exemplo clássico disso. A primeira tem conteúdo espírita, mas é de autoria pseudo-católica. Pois é, Elisabeth Jhin, autora da novela, declarou a imprensa que se diz católica, mas não disse se é praticante ou não.
A doutrina espírita se contrapõe à cristã em um ponto principal. Enquanto o espiritismo acredita na reencarnação (o ser morrerá e poderá voltar em outro corpo), o cristianismo acredita na ressurreição (só morrerá uma vez só). E a bíblia nos ajuda a entender isso. A Carta aos Hebreus, capítulo 9, versículo 27, nos fala que só morreremos apenas UMA vez. O espiritismo nega, pelo menos, outras 39 verdades cristãs católicas, como o respeito ao Papa, a intercessão dos santos e de Maria, etc.
Tão pior quanto uma novela de conteúdo espírita, é uma outra que em todos os seus capítulos deu mostras de como tramas novelísticas podem ser sórdidas de cabo a rabo. Trata-se da novela “Viver a Vida”, do Manoel Carlos, que terminou recentemente. Esse folhetim (nome alternativo para a telenovela) exibido em horário nobre exalou vários cheiros de podridão, ou seja, quem assistiu acompanhou, em alto-relevo, exemplos de contra valores expostos por ela.
Logo no início da trama, Marcos, personagem do ator veterano, José Mayer, trocou um casamento de 30 anos com Teresa (Lílian Cabral) e cujo relacionamento gerou três filhas, entre elas a modelo Luciana (Aline Moraes), que viria a ficar tetraplégica na trama, com a modelo Helena (Thais Araújo), 30 anos mais jovem. Paralelo ao relacionamento com ela, Marcos ainda tem relacionamento com mais duas mulheres, sendo que uma delas – Dora (Giovanna Antonelli) - tem uma filha e tinha envolvimento afetivo com outra pessoa.
A atual novela das “oito”, que na prática é das nove, Passione, é outro caso bizarro de maus exemplos. De acordo com dados do jornal paulista Folha de São Paulo, a personagem da atriz Maitê Proença, só nos primeiros nove capítulos da trama, traiu o marido, a exatas 23 vezes, isso, você leu bem, 23 VEZES.
De acordo com o código penal e para o cristianismo católico, poligamia é, respectivamente, crime e pecado contra a formação familiar. Nos cinco primeiros livros da Bíblia, Deus faz duras considerações sobre isso e a questão do adultério. A lei penal de Moisés, por exemplo, dizia que todo homem e mulher pegos por traição eram condenados por apedrejamento. A legislação mosiática descrita em Lv 20, 10 e Dt 22, 22-24 foi quase aplicada na Parábola da Mulher Adúltera (João 8, 1-10).
Com efeito, as novelas globais e de outras emissoras, querem incitar aos telespectadores a idéia de que trair é “normal”. Talvez você possa estar achando as informações, até agora, aqui descritas são repetitivas. Mas elas têm um propósito alertar as mulheres e homens de que a narrativa novelística pode encantar; seduzir e até viciar.
São justamente os mesmos passos de quem se envolve com o uso de drogas: se encantou, foi seduzido e se viciou. Pois é, minha gente alguns psicólogos trabalham com a idéia de que novela é uma droga, porque entorpece, relaxa, acalma.
Diante desse grave panorama, como disse acima, as novelas são temas recorrentes de debates da CNBB e palestras da RCC. Embora, o alvo seja todos os católicos, a preocupação maior é com os chamados agentes de pastorais que muitas vezes, deixa de participar da programação semanal para assistir novelas.
Muitas vezes padres e pregadores leigos são acusados de interferir na vida e no gosto pessoais dos fieis. Essa acusação é feita pela mídia profana e, também, por alguns freqüentadores da missa de preceito (domingos e festas).Certamente, essas insinuações se devem pela falta de formação. A missão dual (dupla) da Igreja é anunciar e denunciar.
Concluindo que o catolicismo está brigando contra um aparente gigante, lembrando a luta de Davi contra Golias. É um assunto polemico, mas espera-se que esse gigante seja derrubado pela fé e não usando cinco pedrinhas, dentro de uma pequena bolsa. Quem viver, verá!