Leniéverson Azeredo Gomes
“Olho por olho
e dente por dente”. Assim está escrito o primeiro versículo do evangelho de
Hoje ( Mt 5, 38-42).Essa é a síntese da lei de talião, um código do Antigo
Oriente, desenvolvido pelo profeta Moises, onde a justiça repousava sobre a
vingança privada, registrada biblicamente, de forma ampliada e bem descrita, na
passagem de Levítico 24, 17-20.
Grosso
modo, se alguém, por exemplo, cortava um dedo de alguém era punido com pena
igual ao crime praticado. A escola hermenêutica que desenvolveu a versão
bíblica da Ave Maria, afirma que essa lei, na verdade desenvolve um apetite
imoderado – não moderado – de vingança.
Vejamos,
nos versículos 38a e 39 , do capítulo 5
de São Mateus, Jesus que sabia de toda a lei Mosiática, disse aos seus
discípulos: “Tu ouvistes o que foi dito pelos antigos, mas, eu vos digo: Não
enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita,
oferece-lhe também a esquerda!
Cristo
fez, uma espécie de reforma na lei
taliônica de Moisés, a partir de um dos mandamentos do Decálogo,
popularmente conhecido como Leis de Deus
que diz: “Não matarás” (Ex 20,13 e Mt 5,21). Só Deus pode tirar a vida, e, de
sobremodo, devemos “amar nossos inimigos, fazer o bem a quem nos odeia e, orar
por aqueles que nos maltratam e nos perseguem”. (Mt 5,44)
Jesus
ainda afirmava “se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe
também a capa. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois
mil. Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado”.
(Mt 5, 40-42).
De
fato, a natureza cristológica se caracterizava pela busca “de um espírito de
suavidade, paciência” e misericórdia, mas não foi a primeira vez em que o Filho
de Deus chamou atenção sobre a utilização indiscriminada, equivocada e torta de
leis antigas como a de Talião. Jesus condenou os fariseus que queriam apedrejar
uma mulher adultera ( João 8, 1-10). De fato, em Levítico 24, 16, havia uma
pena onde se afirmava “Quem blasfemar o nome do Senhor, será punido de morte:
toda a assembleia deve apedrejá-lo. Quer seja estrangeiro ou natural, se
blasfemar contra o santo nome, será punido de morte”.
Oras,
“se alguém quiser condenar outra pessoa, deve se primeiro verificar se ele, o
emissor da punição, tem ou não uma conduta irrepreensível”, assim afirma
conclusivamente a autêntica exegese católica. Muita gente não entendia a
pedagogia misericordiosa de Jesus, talvez pela dureza de coração ou o excesso
de legalismo.
Amados,
devemos compreender que “a paz excede todo o entendimento sobre o desejo de
vingança” e que a vingança e o desejo de penas de morte, não faz parte dos
planos de Deus. A verdade que se estabelece deve superar toda mentira e o ódio,
para que nós possamos “perdoar setenta vezes sete”, ainda que isso seja
extremamente difícil, mas não impossível. Afinal, como nos aconselha Santo
Agostinho, “precisamos extrair do mal um bem maior”.