segunda-feira, 18 de junho de 2012

Olho por olho, dente por dente : Será que isso é certo? - Reflexão litúrgica de hoje.

Leniéverson Azeredo Gomes




“Olho por olho e dente por dente”. Assim está escrito o primeiro versículo do evangelho de Hoje ( Mt 5, 38-42).Essa é a síntese da lei de talião, um código do Antigo Oriente, desenvolvido pelo profeta Moises, onde a justiça repousava sobre a vingança privada, registrada biblicamente, de forma ampliada e bem descrita, na passagem de Levítico 24, 17-20.

Grosso modo, se alguém, por exemplo, cortava um dedo de alguém era punido com pena igual ao crime praticado. A escola hermenêutica que desenvolveu a versão bíblica da Ave Maria, afirma que essa lei, na verdade desenvolve um apetite imoderado – não moderado – de vingança.
Vejamos, nos versículos 38a e 39  , do capítulo 5 de São Mateus, Jesus que sabia de toda a lei Mosiática, disse aos seus discípulos: “Tu ouvistes o que foi dito pelos antigos, mas, eu vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!
Cristo fez, uma espécie de reforma na lei  taliônica de Moisés, a partir de um dos mandamentos do Decálogo, popularmente conhecido como  Leis de Deus que diz: “Não matarás” (Ex 20,13 e Mt 5,21). Só Deus pode tirar a vida, e, de sobremodo, devemos “amar nossos inimigos, fazer o bem a quem nos odeia e, orar por aqueles que nos maltratam e nos perseguem”. (Mt 5,44) 
Jesus ainda afirmava “se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil. Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado”. (Mt 5, 40-42).
De fato, a natureza cristológica se caracterizava pela busca “de um espírito de suavidade, paciência” e misericórdia, mas não foi a primeira vez em que o Filho de Deus chamou atenção sobre a utilização indiscriminada, equivocada e torta de leis antigas como a de Talião. Jesus condenou os fariseus que queriam apedrejar uma mulher adultera ( João 8, 1-10). De fato, em Levítico 24, 16, havia uma pena onde se afirmava “Quem blasfemar o nome do Senhor, será punido de morte: toda a assembleia deve apedrejá-lo. Quer seja estrangeiro ou natural, se blasfemar contra o santo nome, será punido de morte”.
Oras, “se alguém quiser condenar outra pessoa, deve se primeiro verificar se ele, o emissor da punição, tem ou não uma conduta irrepreensível”, assim afirma conclusivamente a autêntica exegese católica. Muita gente não entendia a pedagogia misericordiosa de Jesus, talvez pela dureza de coração ou o excesso de legalismo.
Amados, devemos compreender que “a paz excede todo o entendimento sobre o desejo de vingança” e que a vingança e o desejo de penas de morte, não faz parte dos planos de Deus. A verdade que se estabelece deve superar toda mentira e o ódio, para que nós possamos “perdoar setenta vezes sete”, ainda que isso seja extremamente difícil, mas não impossível. Afinal, como nos aconselha Santo Agostinho, “precisamos extrair do mal um bem maior”.