quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Por uma discussão mais profunda sobre a Quaresma.


Pois é, minha gente, mais um daqueles textos, de minha autoria, ou seja, de Leniéverson Azeredo Gomes, que é necessariamente grande, desta vez sobre o período quaresmal, tenham paciência e boa leitura.

Assim como o Advento, a Quaresma é um tempo litúrgico penitencial, que nos exorta a metanóia, ou seja, uma conversão.  A Igreja Católica, além das Vias-Sacras que nos remete passagens ligadas a paixão e morte de Cristo, nos oferece três práticas espirituais, que também podem ser chamadas de pilares, onde a nossa  busca pela mudança de vida pode ser sustentada : jejum, esmola ou caridade e oração.
Esses pilares ou práticas espirituais, para ser bem feitas e ter uma boa sustentação em nossas vidas, depende, é claro do nosso querer e da nossa perseverança. Nesse artigo, esses três vetores que nos levam ao encontro com Jesus, serão esmiuçados sob um ponto de vista mais didático para tentar te ajudar a viver bem este tempo convidativo.
Quando queremos fazer um exercício ou uma atividade física de alto rendimento, uma das coisas mais ajuizadas a fazer é, procurar um médico. O profissional de saúde, a partir de uma bateria de exames, vai definir se você está apto para fazer esta ou aquela atividade física, definindo a intensidade dos exercícios que se ajuste ao seu metabolismo, ou se você não está apto para fazer.
É a mesma coisa, no sentido religioso, para sabermos qual é o melhor caminho para viver bem o tempo Quaresmal, requer, é claro a consulta de um médico, na verdade o Médico dos Médicos, que é Jesus. O Messias, sendo doutor em salvação irá promover, com o nosso querer e decisão, curas interiores, que para serem mantidas, exigem perseverança – leia-se manutenção -.
Agora, quando se trabalha o conceito de cura, não se deve  pensar no conceito de que algo esteja doente fisicamente. Em geral, o estudo sobre as questões quaresmais trabalha com o conceito de doença espiritual, ou seja, com aquilo que está manchando o coração do homem e da mulher, manchas estas que impedem com que o ser se reconcilie com Jesus. Daí vem o sinônimo para designar penitência: a Reconciliação.
Amados, Jesus não vem para os sãos ou pessoas que acham perfeitas, vêm para aqueles que possuem seus corações manchados e que desejam a Salvação. São os pecadores. A Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, afirma que é o pecado, dentro do conceito de mancha, “é uma ofensa a Jesus, uma ruptura da comunhão com Ele (...) e ao mesmo tempo, um atentado à comunhão com a Igreja”.
Pecador é aquele que reconhece sua pequenez diante de Jesus, que conclui que precisa sacramentalmente se reconciliar com Jesus. Além do Sacramento da Confissão, que o meio reconciliador e litúrgico, por excelência, temos a vida de oração.


    



A oração é muito mais que um diálogo com Jesus, é um orar em ação. Conversamos com Jesus, mas parte-se do pressuposto de que iremos agir. Os santos tinham um conceito muito particular e intimista de oração. São João Damasceno (foto acima), por exemplo, dizia que a oração era um “elevar de alma a Jesus e um pedido a Ele para que se tenham bens convenientes” e não bens que não se merece. Já, Santa Terezinha do Menino Jesus (Foto acima) afirmava que orar é “um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao Céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”.
A Oração nos ajuda a fortalecer a nossa fé, nos auxilia a fazer a segunda prática espiritual ou construir em nós, outro pilar quaresmal: o jejum.
O jejum, apoiado na oração constante, contribui para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração. A Igreja considera o jejum, além das coisas citadas por mim, um mandamento, o de número 4. Diz expressamente, que devemos exercitar essa prática e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja. Do cânone 1249 até 1253, do Código de Direito Canônico, ensina ao Cristão Católico, como fazer um autêntico  e adequado jejum para cada pessoa. 
Mas jejuar não se restringe a abstenção de carne, outro tipo de alimento ou bebidas sejam elas alcóolicas ou não, a prática tem a ver com a diminuição do que se vê, em termos de programas de televisão, diminuir as idas em baladas, falar menos, dentre outras coisas. É o conceito da mortificação, ou seja, morrer para si mesmo. Abraçar a cruz de Cristo, após renunciar aquilo que leva ao pecado. Assim, como na prática espiritual da oração, os santos nos ensinam  uma pedagogia muito valiosa sobre o jejum, a partir do processo da mortificação.
São Domingos Sávio
São Domingos Sávio, por exemplo, dizia que “antes morrer, do que pecar”. A filosofia “saviana” tem uma característica empresarial. Explico. Uma empresa tem metas de produtividade. Metas essas, que objetivam buscar a liderança do mercado dum determinado ramo de atividade. No caso de São Domingos Sávio, havia e há duas diferenças conceituais em relação as empresas. A busca pela santidade não tinha objetivo de concorrer com outros santos. São Domingos Sávio competia consigo mesmo. Além disso, o santo não tinha como meta ganhar dinheiro com a amostra de mortificação radical, tinha como meta a vida eterna, ou seja, o céu.
“O Reino dos Céus é arrebatado a força e são os violentos que o conquistam”, este texto do evangelho de São Mateus, capítulo 11, versículo 12, caracteriza, dentre outras coisas, a atitude de santos, como São Domingo Sávio. A oração produz força para fazer jejum, o jejum requer mortificação e a mortificação é um dos pilares das atitudes que levam ao martírio hagiológico, ou seja, ao martírio dos santos.
        
           

São Domingo Sávio, Santa Maria Goretti, Beata Albertina Berckenbroker, Santa Inês, Santa Luzia, Santo Estevão, São Maximiliano Maria Kolb (todos em ordem horária nas fotos), foram santos que se deixaram martirizar, cada qual a sua maneira, pagaram com a vida, para mostrar obediência e fidelidade a Jesus.


Nossos irmãos protestantes, que é sabido, não reconhecem a importância da intercessão dos santos, vê o martírio apenas como e, simplesmente, um elemento de perseguição religiosa. Para o catolicismo, o martírio é “o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade”, Catecismo da Igreja Católica (CIC), Cân nº 2473.
Se os santos buscavam uma vida em direção ao Senhor pela caridade, nós também devemos ser fiéis ao senhor pelo amor, pela via caritativa. Para a encíclica “Deus Caritas Est”, escrita pelo Papa Bento XVI, afirma que “o amor de Deus por nós é questão fundamental para a vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós” e que quando se fala de amor, fala-se de “amor da pátria; à profissão; entre amigos; ao trabalho; entre pais e filhos; entre irmãos e familiares; ao próximo e; a Deus”.
O primeiro documento do Papa diferencia o amor “Eros”(sexo) do amor “Ágape” (caridade exigente). Categoricamente, o período quaresmal anuncia e propõe a toda comunidade de fiéis um amor ágape e, mais: sugere aos crédulos que essa forma caritativa seja considerada uma virtude teologal. Uma virtude teologal “fundamenta, anima e caracteriza o agir moral do cristão. Informa e vivifica todas as virtudes morais. É infundida por Deus na alma dos fiéis para torná-los capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna”, Catecismo da Igreja Católica (CIC), cân. nº 1813.
São Tiago
A pedagogia quaresmal orienta que nesse período o fiel deve demonstrar a caridade através de obras caritativas. Porque considera, a partir de uma leitura do livro bíblico de São Tiago, o fato de que se a pessoa diz ter fé (outra virtude teologal) tem também de mostrar obras. Oras, se o ser diz ter fé, então que mostre as obras. Para tornar mais claro, as obras de caridade, igualmente chamado de misericórdia, são as ações pelas quais socorremos o próximo em suas necessidades corporais e espirituais. As necessidades espirituais são: instruir, aconselhar, consolar, confortar, perdoar e suportar com paciência. As necessidades corporais consistem em: dar de comer a quem tem fome, dar de beber em quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir aos maltrapilhos, visitar os prisioneiros e sepultar os mortos. Além disso, pode se considerar uma necessidade corporal e gesto de misericórdia, a esmola dada aos pobres. Enfim, são coisas que agradam a Deus.
Concluindo, o tempo quaresmal não é um período de julgamentos humanos; de viver para si mesmo; de uma introspecção do ego; de individualismos, dentre outras coisas. É tempo de renúncias, de revisão de vidas, permitir que Deus mexa com as nossas estruturas. De ter mais fé, mais esperança no Pai celestial, mais confiança. De confessar nossos pecados, para ter nossa alma lavada. De se buscar uma vida melhor de oração para dialogar com o sagrado. E, acima de tudo, ter um coração mais voltado ao próximo do irmão (dimensão horizontal) e mais próximo de Deus (dimensão vertical).