A Comissão Episcopal Pastoral para a Caridade, Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou uma declaração sobre o assassinato dos líderes ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa Maria do Espírito Santo Silva, ocorrido no dia 24, por volta das 8h em Nova Ipixuna, estado do Pará. O casal foi assassinado a tiros no interior do Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do estado.
“A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz - CNBB se une às inúmeras manifestações de repúdio ao brutal assassinato do casal”, diz um trecho. A Comissão lembra também uma declaração feita em novembro de 2010, por José Cláudio diante de mais de 400 pensadores de diversas áreas do conhecimento, na qual ele disse “vivo da floresta, protejo ela de todo jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora porque eu vou pra cima, eu denuncio”.
Ainda na declaração, a Comissão pede, em nome das Pastorais Sociais e dos Organismos a ela vinculados, “solidariedade às comunidades da diocese de Marabá, ao povo de Nova Ipixuna e aos familiares do casal”.
Leia declaração na íntegra
Declaração de repúdio ao assassinato do casal de extrativistas no Estado do Pará
“Como a terra faz desabrochar suas sementes, Deus fará germinar a justiça diante de todas as nações’ (cf. Isaias, 61,11).
A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz - CNBB se une às inúmeras manifestações de repúdio ao brutal assassinato do casal Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, líderes camponeses, ocorrido na manhã desta terça-feira, 24 de maio, em Nova Ipixuna, sudeste do Pará.
Conhecido por sua liderança no projeto de assentamento agroextrativista Praialta-Piranheira, criado em 1997, e na associação de camponeses da região, o casal ganhou o respeito e a admiração de todos na região por sua bravura na denúncia da ação de madeireiros ilegais na floresta amazônica.
A declaração feita, em novembro de 2010, diante de mais de 400 pensadores de diversas áreas do conhecimento sob o tema da qualidade de vida no planeta, nos dá uma dimensão da luta e do comprometimento de José Cláudio com a ecologia:
"Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora porque eu vou pra cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo pra serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida pra mim que vivo na floresta e pra vocês também, que vivem nos centros urbanos".
O assassinato de Maria e José Cláudio, com repercussão internacional, traz à memória Chico Mendes e Ir. Dorothy, vítimas do mesmo poder econômico que avança sobre as florestas. A violência que mata estas lideranças em nosso país, evidencia a urgência de um modelo de desenvolvimento que respeite e promova a riqueza das culturas tradicionais na proteção, convivência e produtividade dos povos da floresta. Este pensamento foi expresso pela CNBB ao afirmar que:
“Organizar um processo produtivo que efetive a solidariedade e harmonize as sociedades atuais com as gerações futuras e com o meio ambiente é o desafio de um novo paradigma para a questão agrária no início do século XXI”. (cf. Doc. 99, Estudos da CNBB, nº 235-236).
Em nome das Pastorais Sociais e dos Organismos a ela vinculados, a Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz - CNBB manifesta sua solidariedade às comunidades da diocese de Marabá, ao povo de Nova Ipixuna e aos familiares do casal Maria e José Cláudio. Exige, ao mesmo tempo, a apuração imediata dos crimes com a consequente punição dos culpados, bem como a proteção a todas as lideranças camponesas ameaçadas de morte, para que floresça a justiça em nosso país.
Brasília, DF, 26 de maio de 2011.
Dom Guilherme Antônio Werlang MSF
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral
para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
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