Leniéverson Azeredo Gomes
Todo mecanismo
motorizado para funcionar bem, é preciso, sobretudo, que suas engrenagens
estejam em bom estado e bem lubrificado com óleo especial. Desta forma, as duas
rodas dentadas superpostas entre si não travarão e poderão fazer com que a máquina
possa estar a serviço do usuário.
O evangelho litúrgico
desta terça-feira (Mt 18, 21-35) aborda de forma intensa, precisa e cirúrgica,
uma questão muito importante que, se não trabalharmos bem, também pode emperrar
a engrenagem que impede a máquina movimentadora da relação entre os seres
humanos: o perdão.
Perdoar de
coração revela um desejo de viver uma busca por um esmero nas relações vertical
(entre o homem e Deus) e na relação horizontal ( entre o homem e o próximo).
Não é a toa que a Boa Nova, estabelece que a verdadeira clemência é aquela
feita “setenta vezes sete” (v.22), ou seja, para sempre. O dispositivo legal que
regula a forma segura para dar o perdão foi definido pelo próprio Jesus Cristo,
após o apóstolo Pedro ter feito uma pergunta que eu ou você faríamos diante da
preocupação com as consequências de ações ruins praticada por segundas e terceiras
pessoas humanas para conosco.
A teologia
aponta que o número 7 significa perfeição. Não se deve achar que, com isso, a
Igreja Cristã aderiu a prática herética da numerologia, muito pelo contrário a
eclesiologia rejeita. A proposta da utilização de números vem de encontro a
necessidade urgente de fazer o evangelho ser entendido. E no caso em tela, o 7,
além de ter um sentido de requinte ou perfeição, define que o verdadeiro perdão é dada com o
respaldo divino.
Certa vez, São
Cipriano de Cartago, um dos Padres da Igreja (Patrística), disse algo muito
profundo que segue exatamente o raciocínio da busca incessante pelo vínculo da
perfeição e o espírito da unidade:
“Deus não
aceita o sacrifício dos que fomentam a desunião; Ele ordena que se afastem do
altar para primeiro se reconciliarem com seus irmãos: Deus quer ser pacificado
com orações de paz. Para Deus a mais bela obrigação é nossa paz, nossa concórdia,
a unidade no Pai, no Filho e no Espírito Santo de todo o povo fiel”.
A parábola do
servo cruel, trabalhada liturgicamente hoje, nos mostra essa ideia. Um rei perdoou
as dividas altíssimas de um servo, mas este servo não perdoou a divida de um
companheiro, que também era servo do rei, mandando-o para a prisão. O rei, que
deve ser entendido que é o próprio Deus, sabendo por terceiros sobre a
crueldade do servo, ficou encolerizado e colocou esse “servo mau e cruel”
diante da prisão até que pagasse a dívida e soltou o outro.
É “assim que
nos tratará o Pai celeste, caso cada um de nós não perdoarmos o nosso irmão, de
todo o coração” (v.35). Não estranhe essa pedagogia de Deus. Pois a medida da
ação que nós medirmos, Deus medirá com a mesma proporção.
Caros irmãos
em Jesus Cristo, perdoar é também um ato de caridade, um ato de amor a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Perdoar não significa, de forma
definitiva, esquecer o que A ou B fez, mas sim, fazer com que as engrenagens
possam voltar a funcionar com qualidade e; vínculo de perfeição. Viver com o
coração carregado de rancor não compensa, pois faz mal a saúde.
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