terça-feira, 5 de março de 2013

Perdão: Um óleo lubrificante que nos permite reconciliar com Deus e os irmãos.


Leniéverson Azeredo Gomes


     Todo mecanismo motorizado para funcionar bem, é preciso, sobretudo, que suas engrenagens estejam em bom estado e bem lubrificado com óleo especial. Desta forma, as duas rodas dentadas superpostas entre si não travarão e poderão fazer com que a máquina possa estar a serviço do usuário.
O evangelho litúrgico desta terça-feira (Mt 18, 21-35) aborda de forma intensa, precisa e cirúrgica, uma questão muito importante que, se não trabalharmos bem, também pode emperrar a engrenagem que impede a máquina movimentadora da relação entre os seres humanos: o perdão.
Perdoar de coração revela um desejo de viver uma busca por um esmero nas relações vertical (entre o homem e Deus) e na relação horizontal ( entre o homem e o próximo). Não é a toa que a Boa Nova, estabelece que a verdadeira clemência é aquela feita “setenta vezes sete” (v.22), ou seja, para sempre. O dispositivo legal que regula a forma segura para dar o perdão foi definido pelo próprio Jesus Cristo, após o apóstolo Pedro ter feito uma pergunta que eu ou você faríamos diante da preocupação com as consequências de ações ruins praticada por segundas e terceiras pessoas humanas para conosco.
A teologia aponta que o número 7 significa perfeição. Não se deve achar que, com isso, a Igreja Cristã aderiu a prática herética da numerologia, muito pelo contrário a eclesiologia rejeita. A proposta da utilização de números vem de encontro a necessidade urgente de fazer o evangelho ser entendido. E no caso em tela, o 7, além de ter um sentido de requinte ou perfeição,  define que o verdadeiro perdão é dada com o respaldo divino.
Certa vez, São Cipriano de Cartago, um dos Padres da Igreja (Patrística), disse algo muito profundo que segue exatamente o raciocínio da busca incessante pelo vínculo da perfeição e o espírito da unidade:
“Deus não aceita o sacrifício dos que fomentam a desunião; Ele ordena que se afastem do altar para primeiro se reconciliarem com seus irmãos: Deus quer ser pacificado com orações de paz. Para Deus a mais bela obrigação é nossa paz, nossa concórdia, a unidade no Pai, no Filho e no Espírito Santo de todo o povo fiel”.
A parábola do servo cruel, trabalhada liturgicamente hoje, nos mostra essa ideia. Um rei perdoou as dividas altíssimas de um servo, mas este servo não perdoou a divida de um companheiro, que também era servo do rei, mandando-o para a prisão. O rei, que deve ser entendido que é o próprio Deus, sabendo por terceiros sobre a crueldade do servo, ficou encolerizado e colocou esse “servo mau e cruel” diante da prisão até que pagasse a dívida e soltou o outro.
É “assim que nos tratará o Pai celeste, caso cada um de nós não perdoarmos o nosso irmão, de todo o coração” (v.35). Não estranhe essa pedagogia de Deus. Pois a medida da ação que nós medirmos, Deus medirá com a mesma proporção.
Caros irmãos em Jesus Cristo, perdoar é também um ato de caridade, um ato de amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Perdoar não significa, de forma definitiva, esquecer o que A ou B fez, mas sim, fazer com que as engrenagens possam voltar a funcionar com qualidade e; vínculo de perfeição. Viver com o coração carregado de rancor não compensa, pois faz mal a saúde. 

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