Porque essa fala do sumo pontífice é importante e, ao mesmo tempo, mostra porque a chiadeira dos protestantes em relação a ela, não há razão para existir.
Leniéverson Azeredo Gomes
No dia 12 desse mês, o Papa
Francisco emitiu uma declaração muito importante aos fiéis católicos e que
contém um caráter afirmativo. “Porque tudo o que se refere à interpretação da Sagrada Escritura está submetido, e múltima instância, à Igreja, que tem o mandato e o ministério divino de conservar e de interpretar a palavra de Deus. [...] A interpretação das Sagradas Escrituras não pode ser somente um trabalho científico individual, mas sempre deve ser confrontada, inserida e autenticada com a tradição viva da Igreja.Esta norma é decisiva para precisar a relação correta e recíproca entre a exegese e o Magistério da Igreja. Os textos inspirados por Deus foram confiados à Comunidade dos crentes, à Igreja de Cristo, para alimentar a fé e guiar avida da caridade”.
Ele disse isso durante uma
audiência na Pontifícia Comissão Bíblica, no Vaticano. De fato, é uma questão
aparentemente polêmica, pois na verdade não é. O Santo Padre explanou um
conceito, a qual, todo católico deve ou deveria assimilar. Vejamos, a exortação
do Sumo Pontífice retoma alguns pontos a seguir, em ordem cronológica:
1º Ponto - A Igreja Católica não foi
fundada por Constantino, mas sim por Jesus Cristo, no ano de 33 d.C. Em Mateus
16,16-19, diz: “Simão Pedro respondeu a Jesus: Tu és o Cristo, o Filho de Deus
vivo. Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a
carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. Eu te
declaro: Tu és Pedro: sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus: o
que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será
desligado nos céus”. Este trecho nos assegura que Cristo confiou ao discípulo e
pescador Simão Pedro, mais conhecido Pedro, as Chaves do Reino. Teologicamente
entregar as Chaves do Reino, significa que o Filho de Deus confiou a Pedro a
autoridade da Igreja, que ali estava sendo inaugurada. Pedro Apóstolo -
Príncipe dos Apóstolos - recebeu a Chaves do Reino, com a certeza de que, ao
morrer, passaria o bastão, ou seja, haveria um sucessor para conduzir a Igreja Católica.
2º Ponto - Existe a literatura patrística (entre os
séculos 2 a 8 d.C.), ou seja, um conjunto de obras literárias de cunho cristão
escrita pelos que foram convencionados de Padres (Pais) da Igreja. São Irineu
de Leão, Santo Orígenes, São Justino, São Clemente, Santo Agostinho, Sofrônio, São
João, Crisóstomo, São Cipriano de Cartago, São João Damasceno, entre outros,
exemplificam quem formam a Patrística. Os Padres da Igreja, profundos
estudiosos da Teologia, desenvolveram suas análise exegéticas na Tradição dos
Apóstolos ( a mesma descrita como virtude dos primeiros cristãos em Atos 2,42);
em acordos teológicos e como tais eram debatidos quase a exaustão até que se
chegasse a um consenso sobre alguma temática. Dentro de uma apreciação patrística,
as Sagradas Escrituras não cabiam todo o entendimento sobre os ensinamentos
divinos. Os protestantes costumam fazer da Bíblia a ÚNICA regra de fé, o ÚNICO instrumento
para se compreender a teologia. Mas, o curioso é o fato de muitas lideranças
famosas protestantes usarem a patrística para estudos teológicos e como regra
de fé em suas igrejas, como se vê aqui, aqui, aqui. É claro que as lideranças cristãs promovem distorções
(manipulação tendenciosa) na interpretação exegética e hermenêutica da
patrística. Todos os Padres da Igreja, como tais, foram sacerdotes, bispos
católicos e todos os suas pesquisas e reflexões sobre teologia reclinavam beneficamente
sobre o catolicismo. Isso significa que havia na patrística, verdadeiros
tratados sobre a intercessão de santos, devoção a Nossa Senhora, questões sobre
o purgatório, batismo de crianças e, claro, defendendo a Igreja Católica, como
a Única e a que, de fato, foi fundada por Jesus Cristo, assim como foi descrito
no 1º ponto.
3ª Ponto - A Bíblia foi compilada, ou
seja, montada pela Igreja Católica, no século terceiro, depois de Cristo,
durante vários concílios. Como se percebe, de forma clara, evidente e objetiva,
as Sagradas Escrituras não nasceram prontas, a construção dos textos sagrados,
se deu por um amadurecimento teológico – leia-se inspiração divina-, por um
discernimento para separar o que era apócrifo (falso) e o que era canônico
(verdadeiro). Cada detalhe foi feito, de maneira super criteriosa e bastante
séria. Segundo consta, a primeira bíblia impressa – a de Gutemberg – tinha
todos os 72 livros da tradução católica, ao contrário da tradução protestante,
cuja redação foi criada no século XVI, que tem 66.
4º Ponto – Fora da Igreja [católica] não
há salvação – “O Santo Concílio ensina, apoiado na Sagrada Escritura e na
Tradição, que esta Igreja, peregrina na terra, é necessária à salvação. De
fato, só Cristo é mediador e caminho de salvação. Ora, Ele torna-se presente
no seu Corpo, que é a Igreja. Ao afirmar-nos expressamente a necessidade da fé
e do Batismo, Cristo confirma-nos, ao mesmo tempo, a necessidade da própria
Igreja, na qual os homens entram pela porta do Batismo É por isso que não se
podem salvar aqueles que, não ignorando que Deus, por Jesus Cristo, fundou a
Igreja Católica como necessária, se recusam a entrar nela ou a nela
perseverar”. Embora esta definição tenha sido dito quase a exaustão por Santo
Agostinho e São Cipriano de Cartago, como foi dito no 2° ponto, eram os
primeiros padres da Igreja, ela virou, digamos assim, mais enfática do ponto de
vista dogmático-doutrinal com o Papa Pio IX, com a Bula Sylabus, elaborada no
século XIX.
5º Ponto – Só a Igreja Católica contêm o
depósito da fé, o que se chama em latim de “Fidei Depositum”. Inclusive há uma Constituição Apostólica,
também com o nome de Fidei Depositum, redigida e promulgada pelo Papa João
Paulo II, em 1992,que chega a ser uma introdução e uma apresentação do
Catecismo da Igreja Católica. Inclusive esta Constituição Apostólica se encontra
integralmente, no Catecismo.
Entre
o 4º e o 5º ponto, foram escritos alguns documentos que geraram algumas
polêmicas, que reforçaram as geradas pela Bula Sylabus. Eis, alguns exemplos delas,
em ordem cronológica:
Unitatis
Redintegratio (um dos decretos, do Concílio Vaticano II, em 1964, que fala
sobre o ecumenismo), Ut Unum Sint – Que Todos Sejam Um (escrito pelo Papa João
Paulo II, em 1995, que fala sobre o empenho ecumênico), esclarecimento sobre as
igrejas irmãs (escrito pelo Papa Bento XVI) foram documentos eclesiais que
supostamente declaram que a Igreja Católica renunciou ao dogma do “Fora da
Igreja não há Salvação”, dito no 4º ponto. Essa afirmação é errada. Nos 40
anos, da Unitatis Redintegratio, em 11 de novembro de 2004, o Vaticano, através
do Cardeal Walter Kasper ( então Presidente do Conselho para Promoção da
Unidade dos Cristãos , publicou um documento que promove uma intervenção muito
pertinente que refuta essa ideia mítica.
O documento diz que “O movimento ecuménico não
renuncia a nada daquilo que até agora foi precioso e importante para a Igreja e
na sua história; ele permanece fiel à verdade que na história é reconhecida e
definida como tal, e nada lhe acrescenta de novo. O movimento ecuménico e a
finalidade que ele mesmo se propõe, ou seja, a plena unidade dos discípulos de
Cristo permanece inscrita no sulco da Tradição”.
Além disso, reitera que é errado
“quando se faz dele [ o ecumenismo descrito nos documentos ] o fundamento de um
pluralismo e de um relativismo eclesiológico, afirmando que a única Igreja de
Jesus Cristo subsiste em numerosas Igrejas e que a Igreja Católica é
simplesmente uma Igreja ao lado das demais. Semelhantes teorias de pluralismo
eclesiológico contradizem a compreensão da própria identidade que a Igreja Católica
como de resto também as Igrejas ortodoxas sempre teve ao longo da sua Tradição,
compreensão esta que o próprio Concílio Ecuménico Vaticano II desejou fazer
sua. A Igreja Católica reivindica para si mesma, tanto no presente como no
passado, o direito de ser a verdadeira Igreja de Jesus Cristo, em que se
encontra toda a plenitude dos instrumentos de salvação (cf. Unitatis
redintegratio, 3; Ut unum sint, 14), mas agora adquire consciência disto de
maneira dialógica, tendo em consideração também as outras Igrejas e Comunidades
eclesiais”.
Diante de tudo isso, é natural
que muitos protestantes tenham se incomodados, com a fala do Papa Francisco
sobre a questão da interpretação das sagradas escrituras. Mas este incômodo não
há razão de sê-lo. Se nós verificarmos os pontos descritos acima, veremos que,
de fato, a Igreja Católica foi fundada por Jesus Cristo, vemos que foi a Igreja
que, verdadeiramente ‘montou’ a bíblia.
Mas é claro, que com essa
análise, pretende estabelecer questões óbvias, que não se resume em discutir
quem vem primeiro, se foi A ou B e quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha.
Esse artigo analítico, sobre a fala do
Papa Francisco, pretende insistir, de forma oportuna, que há questões
históricas em ordem cronológica, há robustas provas de que, é a Igreja Católica
que tem a autoridade máxima para interpretar as Sagradas Escrituras. É,
digamos, um direito e uma patente natural. Nada estranho essa observação.
É um perigo dar autonomia para
que qualquer um faça a sua própria exegese ou hermenêutica. Vemos por aí, e
será debatido em artigo próprio neste blog que, há igrejas e seitas cristãs,
que usam a bíblia para proibir as pessoas de dançar festa junina, comemorar
aniversários, de doar ou receber transfusão de sangue, de prestar concurso público
no sábado, dentre outras coisas. O evangelista São João, no capítulo oitavo,
versículo trinta e dois diz, seguramente que “quem conhece a verdade, será
liberto”. Mas, a falsa verdade, dita por líderes propagadores de uma doutrina
embusteira, podem produzir muito mais prisão (tristeza e depressão) do que
libertação.
2 comentários:
Modesto o cara, não?
Do que você está falando?
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