Dom Odilo Scherer
Estadão - 8 de dezembro de 2012
Talvez algumas reações tenham decorrido de interpretação equivocada do
processo de escolha do reitor e do vice-reitor da PUC de São Paulo. Conforme o
Estatuto da PUC-SP, compete ao Conselho Superior da Universidade (Consun)
“organizar, através de consulta direta à comunidade, por meio de processo
eletivo, a lista tríplice de nomes de professores para escolha e nomeação do
Reitor e respectivo Vice-Reitor, nos termos deste Estatuto, encaminhando-a ao
Grão-Chanceler” (artigo 21, XXII).
E prevê ainda o mesmo Estatuto que ao grão-chanceler compete “escolher e
nomear o Reitor e o Vice-Reitor dentre os professores de uma lista tríplice
organizada e encaminhada pelo Consun” (artigo 43, II). Portanto, não se trata
de escolha direta do reitor e do vice pela comunidade universitária. Se assim
fosse, não haveria sentido na apresentação de uma lista tríplice pelo Consun e
estaria prevista a eleição direta, pura e simples, do reitor e do vice pela
comunidade universitária. Não é isso, todavia, o que consta no estatuto.
É verdade que a escolha do reitor recaiu, tradicionalmente, sobre o nome
mais votado, pelas razões que a autoridade competente julgou convincentes – eu
mesmo, na escolha precedente, procedi dessa forma. Mas se, desta vez, se seguiu
outra ordem, é porque essa possibilidade sempre esteve implicada na própria
apresentação da lista tríplice pelo Consun ao grão-chanceler.
Toda essa questão leva a refletir algo mais sobre as universidades
católicas, que estão ligadas à Igreja e são regidas, quanto à sua natureza e à
sua missão, pela Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae (Do Coração da
Igreja, 1991), do papa João Paulo II. Elas têm sua origem “do coração da
Igreja” e expressam, da maneira que lhes é própria, a missão da Igreja na busca
e na explicitação do verdadeiro saber (sapientia) e do bem da humanidade. No
que se refere ao ordenamento acadêmico, elas seguem a legislação civil do país
onde se encontram; mas quanto à sua identidade, à sua orientação e aos seus
objetivos específicos, estão sujeitas às normas da Igreja.
Uma universidade católica, como qualquer outra, é uma comunidade de
estudiosos, dos vários campos do saber humano; também ela se dedica à pesquisa,
ao ensino e às várias formas de serviço à sociedade, compatíveis com sua
identidade e sua missão. Enquanto “católica” e, em nosso caso, também
“pontifícia”, ela está ligada à Igreja, segue as suas diretrizes e deve
realizar as suas atividades de maneira coerente com os ideais, princípios e
comportamentos católicos – nem se poderia esperar que fosse diversamente, ou
até o contrário disso.
No entanto, não equivale isso a dizer que todos os que frequentam uma
universidade católica devam ser confessionalmente católicos. A própria PUC-SP
acolhe muitos estudantes que não professam a fé católica. E são todos
bem-vindos, a liberdade de consciência é plenamente respeitada e o credo
católico não é imposto a ninguém. É certo, porém, que a própria universidade
tem a missão de apresentar e honrar a sua identidade diante de todos os que a
frequentam e integram a comunidade acadêmica.
A liberdade de pensamento, de ensino e de manifestação das ideias,
consagrada pelas Constituições dos países democráticos, assegura esse direito
às instituições confessionais e não confessionais. Regimes totalitários,
geralmente, são intolerantes em relação a universidades “confessionais”, ou que
não se alinhem plenamente ao pensamento único e oficial, impedindo até mesmo a
sua existência e a sua livre atuação.
Poderia parecer que as universidades católicas, e outras de tipo
confessional, existem tão somente para a vantagem das próprias instituições que
as mantêm, mas isso é outro equívoco. Elas são, antes de tudo, instituições de
educação, de ensino, de formação de pessoas e de fomento da cultura dos povos,
à luz de suas próprias percepções e interpretações da realidade. E não deve ser
visto como um dano para a sociedade que haja instituições com diversos tipos de
diretrizes na educação e na formação dos cidadãos. O conjunto da cultura e do
convívio social fica enriquecido com uma sadia pluralidade educacional.
Contrariamente, se tudo tendesse ao pensamento oficial e único, haveria o risco
de uma cultura monótona e com horizontes sempre mais estreitos. Isso não
representaria um benefício para a convivência plural e democrática.
A universidade católica tem uma contribuição específica a dar para a
formação cultural; e essa contribuição decorre da visão cristã sobre o homem e
o mundo, que tem desdobramentos, entre outros aspectos, na filosofia em geral,
na antropologia, na ética, na educação, na psicologia, na economia, na política
e também na técnica. Esses princípios cristãos oferecem uma forma própria de
interpretação sobre o homem, a sociedade, as relações sociais e a História; e
também, sobre a natureza e a interação do homem com o ambiente da vida.
Mais uma vez, entendo que a universidade católica não tem a finalidade
de impor as expressões próprias de uma “cultura cristã” às pessoas e ao
convívio social, mas de oferecê-las como contribuição, que procede da sua
própria autoconsciência, para o enriquecimento da cultura e da vida social.
A universidade católica é, por excelência, um espaço de diálogo
cultural, onde ela tem muito a oferecer, ex corde Ecclesiae, a partir do âmago
de sua identidade, de sua mensagem e da experiência secular da Igreja.
3 comentários:
D Odilo em derrubou em poucos dias a candidatura do PRB-Edir Macedo-Russomanno à prefeitura no chão por causa de falsas denuncias envolvendo a Igreja; se não fosse isso, talvez teria sido eleito prefeito de S Paulo; provavelmente o mesmo fumo que Haddad, pois ele sendo evangélico(?) é aliado do PT. Ele não brinca em serviço, assim como atacou duramente o caso acima, não dando colher de chá pros revoltosos querendo se imporem também dentro de bens da igreja; seriam ligados ao comunista PT.
Aliás, quem vota no PT colaboraria com esses grupos de baderneiros, dando forças ao partido.
Pois é, Marconi, a questão é de fácil resolução, mas a Arquidiocese tomou a decisão de forma atrasada. Soube que os alunos suspenderam a 'greve' até o ano que vem. Conforme, o site das Organizações Globo. http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/12/apos-mais-de-um-mes-estudantes-da-puc-sp-suspendem-greve.html
Obrigado pela Colaboração, Marconi, fica com Deus!
Postar um comentário