quarta-feira, 20 de abril de 2011

Uma análise sobre o sacramento do matrimonio a partir da polêmica dos noivos que contraíram núpcias vestidos de personagens do filme Shrek no RS

Leniéverson Azeredo Gomes




I – O fato.

A Igreja de São Pedro é o templo matriz da cidade de Garibaldi, uma cidade com cerca de 30 mil habitantes, situada no Nordeste do Rio Grande de Sul.O pequeno município de 167.697 km², conhecido por ser a Terra do Espumante, devido a prospera indústria de vinhos, foi palco de um acontecimento divulgado inicialmente pelo jornal porto-alegrense, Zero Hora, que gerou uma polêmica de grandes proporções e atiramentos de pedras no Bispo local, no caso da Diocese de Caxias do Sul.
No dia 12 de março de 2011, o casal de noivos, a cabeleireira Denise Flores, de 30 anos e o dono de estofaria Marcelo Basso, 39 anos, entraram na Igreja Matriz de Garibaldi, por volta das 19 horas, vestidos como, respectivamente, princesa Fionna e o ogro Shrek, personagens do filme americano homônimo do caractere do noivo.Os convidados, em torno de 600, inclusive crianças, estavam, também, vestidos a caráter do filme produzido pelos estúdios da DreamWorks.O fato noticiado duas semanas provocou a curiosidade de 2000 pessoas em torno da Igreja, segundo o jornal “Correio Brasiliense”.
De acordo com o site G1, a idéia se deu, por gostarem da vida no campo, isolados do movimento das grandes cidades, e; terem aspectos da personalidade semelhantes aos personagens.
Para se casarem, os noivos passaram por quase um ano de preparação e todas as etapas desta foram devidamente aprovadas pelo pároco, responsável por 30 outras capelas da jurisdição da Igreja Matriz, Frei Antoninho Pasqualon.
Em tese, fizeram certo, como orienta o documento 26 da CNBB (Catequese Renovada), em seu parágrafo 222 sobre a visão integral dos sacramentos. Atente-se para o parágrafo referido:
“Por serem sinais e símbolos, [os sacramentos] requerem uma iniciação, uma instrução, para serem devidamente compreendidos e vividos”.

O padre e, por conseguinte, a paróquia, ao longo do processo, permitiu que os noivos e os convidados usassem fantasias do filme americano.Denise Flores, que além de ter sido batizada na Paróquia em questão, foi catequista e militou em grupo de jovens.Certamente isso ajudou que ela conseguisse passar uma lábia no sacerdote que aprovou tais trajes
“O casamento foi baseado na versão clássica da história, na Idade Média, que foi quando a Igreja teve mais poder. Eu convenci o frei lembrando do mandamento que diz para amar a Deus sobre todas as coisas. O meu sonho era me casar onde fui batizada”, afirmou Denise Flores ao Jornal Gaúcho Zero Hora.

E isso, rendeu críticas dos católicos não só da Igreja Matriz de São Pedro, como também da maioria dos diocesanos de Caxias do Sul.
O e-mail e o telefone da Cúria Diocesana ficaram abarrotados de mensagens de descontentamentos e reações negativas com o que ocorreu em Garibaldi. O bispo local, Dom Paulo Moretto, no dia 17 de Março, após a pressão popular, advertiu o frei e enviou uma nota a imprensa.
“Como bispos, recebemos de muitos a manifestação, especialmente por e-mails, de sua perplexidade, desaprovação e preocupação com o que aconteceu na Igreja Matriz São Pedro de Garibaldi, no sábado passado, 12 de março de 2011, pela celebração dum casamento realizado em linguagem e estilo tirado do filme de desenho animado Shrek e Fiona.
No casamento realizado na Igreja, os noivos e os participantes estavam fantasiados no estilo daquele filme.
Para a celebração do sacramento do matrimônio, nós católicos temos ritos e linguagem adequados. Ritos litúrgicos, catequéticos e adequados às culturas e situações e fundamentados na fé e não inspirados na imaginação e na fantasia.
O estilo usado e as fantasias não corresponderam à nossa realidade, nem a santidade e seriedade desta celebração. Por isso, nós também desaprovamos, lastimamos o que aconteceu e compreendemos o mal estar e preocupações causadas.
Como muitos e-mails chegaram a nós via site da Mitra Diocesana, achamos oportuno responder também pelo mesmo canal de informação.
Depois de ter um encontro pessoal com o pároco, procuramos advertir, orientar e corrigir os responsáveis.
Que este acontecimento, como outros, que manifestam nossa fragilidade, nos relembrem que somos peregrinos, povo santo e pecador e sempre necessitados de conversão.
Para isso, contemos sempre com o diálogo, a oração e a correção fraterna”.
(Mitra Diocesana de Caxias do Sul/RS)






II – A Repercussão na Imprensa.

Como foi dito no capítulo anterior, a notícia passou a ser veiculada na mídia nacional cerca de uma semana e meia após o acontecimento. Grande parte dos meios de comunicação associou ao bispo de Caxias do Sul, ainda que só tivesse apenas advertido o padre, expressões do tipo “aquele que criticou”, “Aquele que se sentiu desagradado”, “aquele que ficou perplexo”, “aquele que não gostou da estória”, entre outras coisas.
No site do Jornal Gaúcho, Zero Hora, os comentários de maioria dos internaltas execravam Dom Paulo Moretti, sempre o caracterizando de vilão, aquele que queria impedir a felicidade do casal, chamavam a Igreja, enquanto instituição, de atrasada, de obsoleta, não ser atual, entre outras coisas.
Vejam alguns comentários que comprovam o parágrafo acima:

A igreja católica, ñ tem nada para fazer na vida, não? E fico no apelo do BIN LADEN, usem camisinha, que é um ato de amor que a igreja condena com toda a sua ignorância !!!
O que é que essa igreja de merda pensa que é? O casamento é algo normal, a igreja quer sempre mandar em tudo com um papa idiota que acha que é o imperador do mundo, dizendo pra gente o que fazer e o que ñ fazer, e agora, quer mandar até nos trajes dos noivos. Vai tomar no c..., igrejinha católica do c... "Galera, usem camisinha, p..."
Agora a igreja quer que a gente case com os trajes que eles quiserem??? Já não basta precisar ser sócio da Igreja, estar em dia com os pagamentos de taxas por eles implantadas, agora essa também? Por essas e outras que eu não caso, moro com meu marido já tem 15 anos e somos muiiiito felizes. PARABÉNS AOS NOIVOS. SEJAM MUITO FELIZES, VCS MERECEM. Se vai casar de um jeito ou de outro, o que importa, caramba? Quanta frescura dessa igrejinha de m...né? A religião só atrasa a nossa vida mesmo, casa no civil e pronto, c... !!!

Nota-se que as críticas dadas acima tem o mesmo teor as que foram feitas a Dom José Cardoso Sobrinho, então Arcebispo de Olinda e Recife, quando aplicou, baseado em normas do Código de Direito Canônico, a excomunhão dos médicos que fizeram procedimentos abortivos numa menor de 11 anos em Alagoinhas, interior de Pernambuco,em agosto de 2009.A menor foi estuprada pelo padrasto e a este não foi aplicada pena alguma pela Igreja.O fato que contou com a participação de Organismos Não-Governamentais abortistas, como as Católicas pelo Direito de Decidir, também contou com criticas ferozes.
Comparem com as críticas feitas a decisão do Bispo de Caxias do Sul e notem nítidas semelhanças.

Quem se importa com igreja, que poder ela tem, nada, ela que vá se auto-excomungar pela inquisição e pelos indios que ela matou....pelo apoio ao Nazismo....o que interessa é o bem estar da menina...dois anjinhos no céu....céu affff...tem um mointe de anjinhos morrendo de fome, aqui na terra e a Santa Igreja nada faz...eu excomundo o tal bispo José Cardoso Sobrinho, por querer se auto promover com estas estória terrível.
É incrível como a Igreja Católica permanece em um processo de letargia espiritual, decadente, sem se preocupar com o ensinamento de seus "fieis" a luz da palavra de Deus. Pronunciam-se apenas para proibir ou apontar quando alguma coisa está errada, mas ensinar que é bom, nada! Preferem viver em seus próprios estatutos e dogmas, que não edificam a vida de ninguém. Por exemplo, o que é excomungar para Deus? Isso é bíblico? Creio que não. Concordo quando ele afirma que a lei do homem não está acima da lei de Deus, por isso, se estivesse no lugar dos médicos eu nem preocuparia com tal fato, pois excomungar é coisa instituída por homens e não por Deus.
Vejam só!! Uma instituição que se arroga ser única e verdadeira anunciadora da mensagem de Jesus Cristo, defendendo que a menina fosse deixada à própria sorte... Os gêmeos com certeza não sobreviveriam, pois uma criança de 9 anos apenas não detém um corpo físico com capacidade de sustentar uma gravidez de gêmeos. É um corpo minúsculo a alimentar 3 indivíduos, um coração pequenino a bombear sangue pra mais dois corpos. Nenhum dos 3 suportaria. Essa cúpula católica, atolada em dogmas ridículos, estava deliberadamente condenando as três crianças à morte.

Sinto-me feliz por saber que a equipe médica de Pernambuco tomou uma decisão muito relevante na vida dessa criança, uma vez que a mesma não teria condições de criar uma criança, quanto mais duas!!!!!!!! É lamentável que membros da Igreja Católica ainda defendam o "estupro". Entendo e tambem defendo a preservação da vida!!!! Mas em casos de estupro o aborto deve ser realizado em mulheres de qualquer idade, quanto mais de uma criança de apenas nove anos!!!!! Porque será que a “igraja”(sic) Católica defende tanto a preservação da vida e matou tantas pessoas na inquisição?!!!!

Nos dois casos de críticas negativas as posições dos dois bispos há duas raízes principais: A falta de formação cristã para certas pessoas que se dizem católicas e a falta de noções básicas sobre a doutrina para quem não é nem cristão.O caso de Garibaldi nos lembra o Zorra Total, humorístico da Rede Globo.Um dos seus personagens a Lady Kate usava o bordão :”Eu tô pagando!”Então, a pessoa paga e se pode fazer tudo dentro da Igreja?Errado.

III – Olhar teológico sobre o Templo:

O próprio Jesus, em Mateus 21,12-17, expulsou de forma indignada, cambistas e donos de bancas de negócios de pombas que comercializavam dentro do templo. No momento de expulsão o Filho de Deus pronunciou em boa e alta voz;
“Minha casa é uma casa de oração, mas vós fizestes dela um covil de ladrões”.(v.13)

São Lucas, outro evangelista, afirmava que Jesus, ao fazer isso, objetivava purificar o templo porque ali era um lugar santo. Isso nos faz lembrar a passagem da sarça ardente, no Antigo Testamento, quando Deus pedia Moisés para “tirar as sandálias dos pés porque o solo em que se está pisando é santo” (Êxodo 3,5).
De acordo com o parágrafo 583 do Catecismo da Igreja Católica, “Jesus, como os profetas anteriores a Ele, teve pelo Templo, a Casa de Deus, o mais profundo respeito. No Templo de Jerusalém, Cristo foi apresentado por José e Maria quarenta dias após o nascimento. Com doze anos, decide ficar neste Templo para lembrar aos seus pais que deve se dedicar às coisas do Pai. Durante os anos de sua vida oculta, subiu ao Templo a cada ano, no mínimo por ocasião da Páscoa, até seu ministério público (...)”.
O Templo era para o Cristo, um lugar de encontro com o Pai, era um encontro com Deus.Até Jesus pagava o imposto do templo, mas fazia isso porque era o fundamento da Igreja futura e não para usa-lo ao seu bel-prazer.
Em consonância e concordância com a visão teológica sobre o templo, o parágrafo 26 da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, afirma que As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é “sacramento de unidade”, povo santo, reunido e ordenado sob a direção dos bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, manifestam-no e implicam-no; mas atingem a cada um dos membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, dos ofícios e da atual participação.
Há duas informações importantes, a sacralidade do Templo e a regulação sobre todas as coisas que são realizadas neste mesmo Templo.Dentro da Igreja, enquanto espaço físico, não se pode fazer qualquer coisa, o Templo não é a “Casa da Mãe Joana”.








IV–Como algumas dioceses ou arquidioceses regulam sacramento do matrimonio.

Muitas dioceses ou arquidioceses possuem diretórios pastorais litúrgico-sacramentais para que, de forma, muito zelosa garantir um bom andamento da ministração dos sacramentos na Igreja.Leiam abaixo alguns exemplos:

295. A celebração do casamento religioso deve ser uma verdadeira festa para os noivos, suas famílias e convidados. Nela seja ressaltada a riqueza da Palavra de Deus, da oração comunitária e gestos próprios do sacramento. Seja preparada de acordo com o ritual do matrimônio e de preferência, em conjunto com os noivos, no processo da preparação matrimonial.
(...)
299. Os encontros em preparação ao matrimônio sejam realizados em comunidades eclesiais, em recintos da própria comunidade ou paróquia, conforme as diretrizes da Coordenação Arquidiocesana da Pastoral Familiar. Jamais sejam providenciados por Movimentos ou pessoas em particular, mesmo clérigos ou religiosos(as).
300. Cada paróquia ou comunidade crie uma equipe, ligada à Pastoral Familiar e à Equipe de Liturgia, para ajudar o assistente eclesiástico, os noivos, padrinhos, familiares e convidados, a celebrar com mais entusiasmo e disciplina os matrimônios.
301. Todos os que vão exercer alguma função na celebração deverão ser orientados, previamente, através da divulgação dessas normas. Valorizem-se, portanto, as equipes litúrgicas de celebração do sacramento do matrimônio, dispensando-se a participação das chamadas “firmas de cerimonial”, especializadas em orientar as celebrações como meros eventos sociais.
302. A equipe paroquial da preparação para o matrimônio tem o desafio de reorientar grande parte de noivos que estão mais preocupados com os aspectos materiais que envolvem a prepar ação e a celebração do Matrimônio, tais como vestimentas, adornos, fotógrafos e cinegrafistas do que com o essencial da Liturgia do Matrimônio: o amor que os une e a aprovação de Deus, pela Igreja, à sua união.
(...)
316. É urgente a atuação das equipes paroquiais na acolhida e orientação do povo para que a celebração transcorra bem. Os assistentes eclesiásticos nem sempre têm condições de bem exercer seu ministério litúrgico nas celebrações matrimoniais por pela falta de silêncio, urbanidade, respeito e até de constrangedores tumultos verificáveis antes, durante e depois das celebrações.

(Diretório Pastoral Litúrgico-Sacramental da Arquidiocese de Belo Horizonte-MG)


3.2.2 - Da celebração do matrimônio:
c) Evite-se toda a pompa e solenidade para uns e o caráter humilde para os outros.
(Diretório Pastoral Litúrgico-Sacramental da Diocese de Coxim-MS)

II – Princípios pastorais
23. Na preparação do matrimonio serão dadas explicações da celebração. Se os noivos quiserem realizar alguém gesto diferente, consultem previamente o Pároco. Ele dirá se o gesto é litúrgico e conveniente. Sejam os noivos incentivados a escolher e fazer a leitura da Palavra de Deus durante a celebração preparem os familiares e amigos que irão fazer a oração da comunidade, para mais e melhor participarem, viverem a liturgia sacramental.

V – Data e local do casamento

36. Na celebração do matrimonio, evite-se a discriminação de pessoas e toda pompa que seja sinal de vaidade, luxo e ostentação social. Deve-se procurar, na simplicidade, o aspecto religioso da celebração do sacramento do matrimonio. Lembramos por isso às igrejas e principalmente aos noivos e famílias que a ornamentação da igreja para o casamento deve ser simples e sóbria. Embora não seja necessário, permite-se ornamentar, moderadamente, o altar da celebração, de modo que não atrapalhe à circulação litúrgica. Pedimos aos noivos que não se deixem envolver pelas propostas caras e pretensiosas das floriculturas. Cabe à direção de cada igreja assumir, orientar e exigir a aplicação dessa determinação.
(Diretório Pastoral Litúrgico-Sacramental da Diocese de Lins/SP)
Há um caráter simbólico-sacramental no espaço da celebração. O Templo é sinal da presença e ação salvífica do Pai; é imagem do Corpo Místico de Jesus Cristo. Por isso, todos devem se esforçar para cuidar do espaço celebrativo. Ele deve ser funcional, belo, digno e simples, sendo expressão da beleza do Mistério Pascal de Cristo. Deve proporcionar o encontro com Deus e com as pessoas, não podendo ser usado como local de espetáculos. A poluição visual (acúmulo de cartazes, fotos, banners, etc) no espaço celebrativo deve ser evitada. Deve ser dada atenção especial às vestes usadas pelos ministros, aos vasos sagrados e aos livros usados nas celebrações litúrgicas.
(Diretório Pastoral Litúrgico-Sacramental da Arquidiocese de Vitória)

Outras dioceses e arquidioceses do Brasil têm também seus diretórios pastorais litúrgicos, mas por essas três nota-se que a Igreja tem regras específicas para a cerimônia do matrimonio no Templo. Não existe essa figura do “pagando bem, que mal tem?”O Casal de garibaldi, segundo o único periódico local, afirmou que o casal contratou uma firma particular para cuidar da ornamentação do templo, dentre outras coisas.
A maioria dos bispos e arcebispos propõe de forma pastoral a idéia de que o casal deve evitar firmas particulares de cerimoniais e sim de organismos da própria Igreja como a Pastoral Familiar que atua de forma conjuntural com outras pastorais da Igreja Católica.O que provoca um forte incomodo de firmas particulares porque acham que o clero episcopal, pasmem, não deve interferir no seu trabalho.Vejam só até que ponto chega-se

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