sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O sucesso das parcerias público-privadas X SEPE-RJ. Ou: Porque o Soneto de Itabira explica o atraso da educação no Brasil?


Leniéverson Azeredo Gomes


No dia 20 de fevereiro, o Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, exibiu uma reportagem feita pelo jornalista, Rubem Berta, que mostrou uma iniciativa da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, que existe há quase 2 anos.  Trata-se de um sistema de parcerias,  que recebeu o nome de ‘Dupla Escola’. Atualmente, participam do projeto, cerca de 10 mil alunos – 1% dos alunos da rede estadual, que são da ordem de 900.000 estudantes-, mas com a possibilidade real de crescimento nos próximos anos. Para participar do projeto, os alunos passam por um teste de seleção,  que acontece em 20 dos 24 colégios de ensino médio, participantes do projeto Dupla Escola,
Pois bem, o sistema de parcerias se baseou em um modelo que já se destacava desde 2008, onde, uma empresa de telefonia, um grupo ligado a rede de supermercados e institutos como o Airton Senna, naquela época, eram parceiras, respectivamente de escolas estaduais na Tijuca (Zona Norte do Rio de Janeiro), São Gonçalo (Região Metropolitana) e em mais 6 unidades da rede. Os alunos participantes do projeto usam o espaço das empresas ou são orientados pedagogicamente pelas empresas dentro das próprias escolas, onde aprendem, dentre outras coisas, técnicas de produção de derivados de leite e panificação. Nas parcerias, em questão é tudo dividido: enquanto as empresas dão suporte de treinamento e equipamentos, o Estado fica com a responsabilidade de pagar os funcionários e gerir as escolas.
Há outras escolas da rede, cuja parceria se dá com embaixada de outros países. Uma escola, em Niterói, na Região Metropolitana, tem com a Embaixada da França, , onde alunos recebem aulas de francês. Outra, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, tem o suporte do Condado de Prince George, no estado de Maryland (EUA), para ensinar inglês. No Méier,  Zona Norte da capital fluminense,  a parceria é com o Ministério de Educação, Cultura e Esporte da Espanha, no Colégio João Cabral de Melo Neto, onde se ensina espanhol. Nos três casos, o ensino de línguas é como se tivesse em um curso particular, pra valer. No caso, de Niterói, por exemplo, há uma professora que leciona francês, que é francesa mesmo.
De acordo com secretário de Educação, Wilson Risolia, a decisão pelas parcerias se deu, devido a necessidade de aliar a educação regular ao planejamento futuro da vida do aluno:
“Nos últimos anos, percorremos o mundo, inclusive acompanhados por professores da rede, para entender as melhores práticas de educação. As avaliações que fizemos mostram que escolas com ensino integrado, profissionalizante, e horário ampliado têm melhor desempenho. Buscamos então parceiros estratégicos, que podem ser de governos de outros países a empresas. E o projeto em geral está associado à vocação econômica da região onde implementamos. Todos ganham, já que o investimento vai resultar numa mão de obra mais qualificada”.
De fato, algumas escolas funcionam em tempo integral – como era nos antigos CIEPS, criados na primeira gestão do Governo Leonel Brizola, nos anos 80 -. Em Niterói, por exemplo, os alunos estudam de 7 da manhã até às 5 da tarde. 
Pode-se não morrer de amores pela gestão do governador Sergio Cabral Filho – inclusive eu – no entanto, é inegável que o projeto merece bem mais elogios que críticas negativas, mas como já dizia Carlos Drummond de Andrade, no Soneto de Itabira, no meio do caminho havia uma pedra, havia uma pedra no meio do caminho. Explico o busílis e fundamentarei as minhas críticas a respeito desta ‘pedra’. Sigamos.
O Coordenador do Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro (SEPE), Alex Trentino, afirma que esse projeto cria uma espécie de elite dentro da rede pública e pode levar a uma privatização do ensino.
“A consequência é que são criadas escolas pretensamente de elite, melhores que as outras, com mais investimento, o que é exatamente o contrário do conceito de uma educação que deveria ser igual para todos. Brigamos para que se invista nas escolas que são mais carentes. E por mais que se diga que a iniciativa privada não faça a gestão da escola, sempre há interferência”.
Bem, a coordenadora do projeto ‘Dupla Escola’, Maria Aparecida Pombo Freitas, rebateu duramente a ‘tese’ do líder do SEPE:
“Das vagas que nós oferecemos, 90% são reservadas para alunos da própria rede pública. E o fato de haver um processo de seleção não deixa de ser uma preparação para o que aquele jovem vai encontrar mais à frente, em exames como o Enem”.
Aí, Aí, como tem coisas que me dão uma leseeeeira, mas vamos que vamos. Para quem não sabe, o Sindicato dos Professores do Estado do Rio de Janeiro é majoritariamente formado por militantes do PSOL – um partido de esquerda. Todo partido de esquerda condena o capital, a iniciativa privada, o lucro, usa em demasia a cultura da opressão e a visão equivocada de igualdade. Mas, apesar disso, o leitor poderia fazer a seguinte pergunta: Que mal tem nisso?  Oras, deixem de ser bobos, sindicatos não deveriam ter orientação e viés partidários.
Nota-se nas críticas do coordenador a ausência de fundamentação técnica. Não usa a Lei de Diretrizes e Bases, não usa a didática, nem outras bases técnicas robustas pedagógicas. Creio eu, que ele sacou da cartola um trecho do livro “Pedagogia do Oprimido”, do Paulo Freire. Só pode.
O coordenador parece viver em outro mundo. O Brasil é um dos países que tem uma posição negativa no Ranking internacional da Educação; tem quantidade enorme de analfabetos literais e funcionais. Criam-se dificuldades para o adolescente aprender uma profissão devido ao Estatuto da Criança e Adolescente, o mercado de trabalho cada vez mais é competitivo, fora o fato de que cresce em escala vertiginosa o número de menores no mundo do crime. 
Assim, como é um crime, a falácia do coordenador, que parece não entender a dimensão das águas mais profundas. A educação precisa ser levada a sério para que se possa criar uma geração de pessoas com massa crítica, que tenham ocupação mental, que aprendam algo útil e não dependente de projetos assistencialistas, como Bolsa Família e política de cotas. E mais, desde a mais tenra idade, os alunos têm de ter algum contato mais sólido com línguas estrangeiras, sejam lá quais forem. São fundamentais no mercado de trabalho, na realização de projetos científicos e para se virar no exterior.
Alias, não é a toa que o SEPE e outros sindicatos pelo Brasil afora, são acusados por intelectuais - chamados pela esquerda de “da direita conservadora”-, de ser um dos principais responsáveis pela crise da educação brasileira. A fala do coordenador do SEPE-RJ é a prova inequívoca disso. Enquanto ficarem fazendo política partidária, criticarem a meritocracia e enfurnando a educação com marxismo barato, dar uma de secretaria paralela da educação, perseguirem o ensino religioso nas escolas, incentivando cartilhas que ensinam as crianças a, de certa forma fazerem sexo precoce, as coisas tendem a ficar de mal a pior. Alguém tem dúvida?




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