Leniéverson Azeredo Gomes
No dia 20 de fevereiro, o
Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, exibiu uma reportagem feita pelo jornalista,
Rubem Berta, que mostrou uma iniciativa da Secretaria de Estado de Educação do
Rio de Janeiro, que existe há quase 2 anos.
Trata-se de um sistema de parcerias,
que recebeu o nome de ‘Dupla Escola’. Atualmente, participam do projeto,
cerca de 10 mil alunos – 1% dos alunos da rede estadual, que são da ordem de
900.000 estudantes-, mas com a possibilidade real de crescimento nos próximos
anos. Para participar do projeto, os alunos passam por um teste de
seleção, que acontece em 20 dos 24
colégios de ensino médio, participantes do projeto Dupla Escola,
Pois bem, o sistema de
parcerias se baseou em um modelo que já se destacava desde 2008, onde, uma
empresa de telefonia, um grupo ligado a rede de supermercados e institutos como
o Airton Senna, naquela época, eram parceiras, respectivamente de escolas
estaduais na Tijuca (Zona Norte do Rio de Janeiro), São Gonçalo (Região
Metropolitana) e em mais 6 unidades da rede. Os alunos participantes do projeto
usam o espaço das empresas ou são orientados pedagogicamente pelas empresas
dentro das próprias escolas, onde aprendem, dentre outras coisas, técnicas de
produção de derivados de leite e panificação. Nas parcerias, em questão é tudo
dividido: enquanto as empresas dão suporte de treinamento e equipamentos, o
Estado fica com a responsabilidade de pagar os funcionários e gerir as escolas.
Há outras escolas da rede, cuja
parceria se dá com embaixada de outros países. Uma escola, em Niterói, na
Região Metropolitana, tem com a Embaixada da França, , onde alunos recebem
aulas de francês. Outra, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, tem o suporte
do Condado de Prince George, no estado de Maryland (EUA), para ensinar inglês. No
Méier, Zona Norte da capital
fluminense, a parceria é com o
Ministério de Educação, Cultura e Esporte da Espanha, no Colégio João Cabral de
Melo Neto, onde se ensina espanhol. Nos três casos, o ensino de línguas é como
se tivesse em um curso particular, pra valer. No caso, de Niterói, por exemplo,
há uma professora que leciona francês, que é francesa mesmo.
De acordo com secretário de
Educação, Wilson Risolia, a decisão pelas parcerias se deu, devido a
necessidade de aliar a educação regular ao planejamento futuro da vida do
aluno:
“Nos últimos anos, percorremos
o mundo, inclusive acompanhados por professores da rede, para entender as
melhores práticas de educação. As avaliações que fizemos mostram que escolas
com ensino integrado, profissionalizante, e horário ampliado têm melhor
desempenho. Buscamos então parceiros estratégicos, que podem ser de governos de
outros países a empresas. E o projeto em geral está associado à vocação
econômica da região onde implementamos. Todos ganham, já que o investimento vai
resultar numa mão de obra mais qualificada”.
De fato, algumas escolas
funcionam em tempo integral – como era nos antigos CIEPS, criados na primeira
gestão do Governo Leonel Brizola, nos anos 80 -. Em Niterói, por exemplo, os
alunos estudam de 7 da manhã até às 5 da tarde.
Pode-se não morrer de amores
pela gestão do governador Sergio Cabral Filho – inclusive eu – no entanto, é
inegável que o projeto merece bem mais elogios que críticas negativas, mas como
já dizia Carlos Drummond de Andrade, no Soneto de Itabira, no meio do caminho
havia uma pedra, havia uma pedra no meio do caminho. Explico o busílis e
fundamentarei as minhas críticas a respeito desta ‘pedra’. Sigamos.
O Coordenador do Sindicato dos
Professores do Estado do Rio de Janeiro (SEPE), Alex Trentino, afirma que esse
projeto cria uma espécie de elite dentro da rede pública e pode levar a uma
privatização do ensino.
“A consequência é que são
criadas escolas pretensamente de elite, melhores que as outras, com mais
investimento, o que é exatamente o contrário do conceito de uma educação que
deveria ser igual para todos. Brigamos para que se invista nas escolas que são
mais carentes. E por mais que se diga que a iniciativa privada não faça a
gestão da escola, sempre há interferência”.
Bem, a coordenadora do projeto
‘Dupla Escola’, Maria Aparecida Pombo Freitas, rebateu duramente a ‘tese’ do
líder do SEPE:
“Das vagas que nós oferecemos,
90% são reservadas para alunos da própria rede pública. E o fato de haver um
processo de seleção não deixa de ser uma preparação para o que aquele jovem vai
encontrar mais à frente, em exames como o Enem”.
Aí, Aí, como tem coisas que me
dão uma leseeeeira, mas vamos que vamos. Para quem não sabe, o Sindicato dos
Professores do Estado do Rio de Janeiro é majoritariamente formado por
militantes do PSOL – um partido de esquerda. Todo partido de esquerda condena o
capital, a iniciativa privada, o lucro, usa em demasia a cultura da opressão e
a visão equivocada de igualdade. Mas, apesar disso, o leitor poderia fazer a
seguinte pergunta: Que mal tem nisso?
Oras, deixem de ser bobos, sindicatos não deveriam ter orientação e viés
partidários.
Nota-se nas críticas do
coordenador a ausência de fundamentação técnica. Não usa a Lei de Diretrizes e
Bases, não usa a didática, nem outras bases técnicas robustas pedagógicas.
Creio eu, que ele sacou da cartola um trecho do livro “Pedagogia do Oprimido”,
do Paulo Freire. Só pode.
O coordenador parece viver em
outro mundo. O Brasil é um dos países que tem uma posição negativa no Ranking
internacional da Educação; tem quantidade enorme de analfabetos literais e
funcionais. Criam-se dificuldades para o adolescente aprender uma profissão
devido ao Estatuto da Criança e Adolescente, o mercado de trabalho cada vez
mais é competitivo, fora o fato de que cresce em escala vertiginosa o número de
menores no mundo do crime.
Assim, como é um crime, a
falácia do coordenador, que parece não entender a dimensão das águas mais
profundas. A educação precisa ser levada a sério para que se possa criar uma
geração de pessoas com massa crítica, que tenham ocupação mental, que aprendam
algo útil e não dependente de projetos assistencialistas, como Bolsa Família e
política de cotas. E mais, desde a mais tenra idade, os alunos têm de ter algum
contato mais sólido com línguas estrangeiras, sejam lá quais forem. São
fundamentais no mercado de trabalho, na realização de projetos científicos e
para se virar no exterior.
Alias, não é a toa que o SEPE e
outros sindicatos pelo Brasil afora, são acusados por intelectuais - chamados
pela esquerda de “da direita conservadora”-, de ser um dos principais
responsáveis pela crise da educação brasileira. A fala do coordenador do
SEPE-RJ é a prova inequívoca disso. Enquanto ficarem fazendo política
partidária, criticarem a meritocracia e enfurnando a educação com marxismo
barato, dar uma de secretaria paralela da educação, perseguirem o ensino
religioso nas escolas, incentivando cartilhas que ensinam as crianças a, de
certa forma fazerem sexo precoce, as coisas tendem a ficar de mal a pior.
Alguém tem dúvida?
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