quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2010: Crise marcou o ano das siglas

A dimensão social e mesmo política da Igreja Católica esteve em destaque num ano de 2010 marcado pela repetição da palavra “crise”, camuflada com siglas - PEC, OE, FMI, TGV, NATO, BPN, IRS, PIB ou BCE.

A criação de um “Fundo Social Solidário”, pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e iniciativas semelhantes em várias dioceses (nalguns casos, já sem recursos para conseguir responder às solicitações) concretizaram preocupações várias vezes manifestadas.

“As medidas de austeridade, para merecerem acolhimento benévolo dos cidadãos, têm de ser acompanhadas de forte intervenção na correcção de desequilíbrios inaceitáveis e de provocantes atentados à justiça social”, referia o comunicado final da assembleia plenária da CEP, em Novembro.

Sucessivas mensagens e intervenções dos bispos, particularmente depois da visita de Bento XVI, em Maio, convergiram, no final do ano, numa mensagem conjunta de Natal em que se aponta o dedo, entre outros, à “a falta de coragem e verdade governativas”.

2010 foi o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, tentando colocar no centro das preocupações os que “não têm voz na sociedade”, como frisava o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo.

Para D. Jorge Ortiga, presidente da CEP, este ano ficou manchado pela ausência de “iniciativas concretas para a verdadeira erradicação da pobreza, com o compromisso dos Estados”.

O aumento do desemprego, as anunciadas medidas de austeridade e o agravamento das condições sociais e económicas levou a um aumento de «novos pobres», acompanhados pelas instituições eclesiais em todo o país.

O olhar da Cáritas Portuguesa esteve ainda sintonizado nas tragédias, tanto em Portugal como no estrangeiro, em particular o Haiti.

O dia 20 de Fevereiro fica na história da Madeira, por força das chuvas torrenciais que destruíram habitações e provocou dezenas de mortos. Mais uma vez, a solidariedade do povo português – através da Cáritas e outras instituições – foi visível, através de bens de toda a ordem.

Além das questões sociais, o ano fica marcado pelas problemáticas da educação. Logo em Janeiro, D. José Policarpo alertava para “nova forma de hegemonia totalitária que se disfarça com as vestes da democracia”, pedindo um sistema educativo menos dependente do Estado.

No segundo semestre do ano, a tensão entre as escolas privadas (Ensino Particular e Cooperativo) e o Ministério da Educação cresceu significativamente, por causa das novas regras de financiamento para os estabelecimentos com contratos de associação.

A CEP, em comunicado, veio a público falar numa situação que, “desde há muito, vem dificultando, em todo o País, a vida e acção destas escolas, levando, de modo progressivo, injusto e programado, ao seu desaparecimento”.

As divergências com o executivo não se ficaram por aqui: no dia 8 de Janeiro, o Parlamento aprovava a proposta do Governo que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma “precipitação” segundo o padre Manuel Morujão, porta-voz da CEP, que viu na ausência de referendo sobre esta matéria uma “ferida democrática”.

«O Estado não é dono da família» e «Queremos votar» foram alguns slogans ouvidos numa manifestação em defesa do casamento, em Lisboa, a 20 de Fevereiro. Em Novembro, os cristãos manifestaram-se também, de outra forma: as dioceses portuguesas acederam ao convite de Bento XVI e fizeram uma vigília de oração pela «Vida Nascente».

O ano não se concluiria sem que outra iniciativa do Papa marcasse a vida da Igreja: Bento XVI aprovou a publicação do decreto que comprova um milagre atribuído à Irmã Maria Clara do Menino Jesus (1843-1899). Assim, em 2011, Portugal terá uma nova beata.

2010: pontificado em análise Bento XVI realizou cinco viagens internacionais e quatro na Itália, concedeu uma entrevista considerada histórica.

Bento XVI viveu em 2010 o ano de maior exposição mediática desde a sua eleição, há cinco anos e meio, tendo conseguido em muitas viagens e intervenções públicas ganhar simpatias e redefinir mesmo a sua imagem.

A questão dos abusos sexuais cometidos por membros do clero foi uma sombra permanente sobre o Papa, que lhe procurou fazer frente apelando, por diversas vezes, à necessidade de justiça e de reparação, no seio da Igreja, em colaboração com as autoridades civis.

Em pleno Ano Sacerdotal, não esqueceria as vítimas – com quem se encontrou nas viagens a Malta e ao Reino Unido – nem os “bons sacerdotes” que tiveram de sofrer as consequências desta “humilhação”, como ele próprio referiu, escrevendo ainda aos seminaristas de todo o mundo, para lhes dizer que vale a pena querer ser padre católico nos dias de hoje.

Outro facto marcante foi a publicação de um livro-entrevista, «Luz do Mundo», resultante de uma conversa com o jornalista alemão Peter Seewald, que já antes entrevistara Joseph Ratzinger por duas vezes.

Para lá da polémica provocada pelas declarações sobre o uso do preservativo na prevenção da SIDA, o registo inédito permitiu dar a conhecer Bento XVI e o seu pensamento sobre temas centrais para a Igreja e a sociedade.

A primeira viagem internacional do ano teve como destino Malta (17-18 de Abril de 2010), onde o Papa lançou vários apelos ao respeito pelas raízes cristãs do país, uma mensagem que se estendia também à Europa.

De 11 a 14 de Maio, Bento XVI passou por Lisboa, Fátima e Porto, revelando capacidade de estar próximo das pessoas e de falar para lá das fronteiras da Igreja.

Se Portugal foi uma lição central para perceber o que pensa o Papa sobre o futuro da Igreja, a visita ao Reino Unido (16-19 de Setembro) mostra o que deseja da relação entre a comunidade crente e um mundo crescentemente secularizado.

Num ano em que canonizou seis novos Santos, é a beatificação do cardeal John Henry Newman (1801-1890) que melhor ilustra uma das batalhas centrais de Bento XVI: a busca de uma consciência aberta à verdade, que não funcione como uma instância meramente subjectiva e relativista.

Em Santiago de Compostela e Barcelona (6-7 de Novembro), Joseph Ratzinger retomou as suas preocupações sobre a Europa do século XXI, progressivamente afastada da fé em Deus, escolhendo dois símbolos mundiais: os caminhos de peregrinação, na Galiza, e a basílica de Gaudí, na Catalunha.

Também dentro da Itália se viveram momentos significativos, com a visita pastoral a Turim (2 de Maio), diante do Santo Sudário, e viagem a Palermo, Sicília (3 de Outubro), onde Bento XVI não teve medo de criticar abertamente a Mafia.

Na Itália, o Papa passou também por Sulmona (4 de Julho) e Carpineto Romano (5 de Setembro).

A viagem ao Chipre (4-6 de Junho) funcionou como uma espécie de prelúdio para Sínodo dos Bispos para o Médio Oriente, que meses mais tarde levaria ao Vaticano as preocupações de várias comunidades ameaçadas pela pobreza, o fundamentalismo, a violência e a emigração em massa.

O tema da liberdade religiosa voltaria a estar em destaque na mensagem que o Papa escreveu para o Dia Mundial da Paz 2011, afirmando que os cristãos são as principais vítimas de perseguição por causa da fé, no mundo.

Em Novembro, o Papa publicou a sua segunda exortação apostólica, intitulada «Verbum Domini» (Palavra do Senhor), na qual convida a Igreja e a sociedade actual à redescoberta de Deus.

2010 conclui-se com um problema que não pára de crescer: as tensões entre a Santa Sé e Pequim, que se configuram como um dos maiores desafios do actual pontificado.

No ano que agora se conclui, Bento XVI nomeou quatro novas presidências para a Cúria Romana e criou um novo Conselho Pontifício, criando ainda 24 novos cardeais.

23 missionários católicos assassinados em 2010 América lidera lista negra, com 15 homicídios, cinco dos quais no Brasil

A Fides, agência do Vaticano para o mundo missionário, revelou que 23 agentes pastorais foram assassinados em 2010, com destaque para o continente americano, com 15 mortes.

O número é inferior ao de 2009 (37 mortes), que tinha sido o mais elevado na última década, mas ultrapassa o registo de 2008 (20).

Na lista divulgada pela Fides encontram-se um bispo, 15 sacerdotes, um religioso, uma religiosa, dois seminaristas e três leigos.

“Esta é apenas a ponta do icebergue de uma situação crítica que atinge cada vez mais a comunidade cristã no mundo”, refere a agência da Congregação para a Evangelização dos Povos.

O caso mais mediático foi o assassinato do bispo italiano Luigi Padovese, presidente da Conferência Episcopal da Turquia, que teve lugar no dia 3 de Junho.

No Iraque, dois sacerdotes perderam a vida no ataque terrorista contra a catedral siro-católica de Bagdad, a 31 de Outubro, que deixou mais de 50 mortos.

As seis mortes na Ásia são ultrapassadas pelas 15 que aconteceram na América, cinco das quais no Brasil.

O elenco destas mortes refere-se não só aos missionários “ad gentes”, mas a todo o pessoal eclesiástico que faleceu de forma violenta ou que sacrificou a sua vida consciente do risco que corria.

A Fides explica que entre os membros desta lista “provisória”, vários “foram vítimas da própria violência que estavam a combater ou da disponibilidade para ir ao encontro dos outros, colocando em segundo plano a sua segurança pessoal”.

Muitos foram assassinados em tentativas de assalto ou sequestro.

Os números da Agência mostram que desde 1980 morreram quase mil missionários, com destaque para as vítimas provocadas pelo genocídio do Ruanda, em 1994. Desde 2001 houve já 253 mortes registadas pela agência do Vaticano.

Papa recebeu «pequenos cantores» de todo o mundo

Bento XVI recebeu esta Quinta-feira, no Vaticano, um grupo de pequenos cantores, vindos de todo o mundo, incluindo Portugal.

No seu discurso, em várias línguas, o Papa disse que “o canto, que exprime o amor de Deus pelo homem e do homem por Deus, é um serviço que contribui para aumentar a fé da Igreja inteira”.

Milhares de rapazes e raparigas participaram, em Roma e no Vaticano, no 36.º congresso da federação internacional dos «Pueri Cantores».

“A minha afectuosa saudação também para os «pequenos cantores» vindos de Portugal. Agradeço-vos o precioso serviço que realizais, animando com o canto as celebrações litúrgicas”, disse Bento XVI, em português.

Papa convida a redescobrir «obediência a Deus» Última audiência de 2010, 45ª do ano, dedicada a santa do século XV

Bento XVI convidou hoje os cristãos a deixarem-se “guiar sempre por Deus”, na úlima audiência pública de 2010, no Vaticano.

Numa catequese dedicada a Catarinha de Bolonha (1413-1463), santa italiana, o Papa disse que os fiéis são chamados a “cumprir todos os dias” a vontade de Deus, “mesmo se, muitas vezes, não corresponde aos nossos projectos”.

“Nesta perspectiva, santa Catarina convida-nos a redescobrir o valor da virtude da obediência”, afirmou.

Santa Catarina de Bolonha foi canonizada pelo Papa Clemente XI, em 1712.

Em português, o actual Papa lembrou-a como “uma mulher de vasta cultura, mas muito humilde”.

“Catarina deixou-nos um belo programa de vida espiritual, na sua obra «As Sete Armas Espirituais», que são: procurar solicitamente cumprir o bem; acreditar que, sozinhos, não poderemos jamais fazer algo de verdadeiramente bom; confiar em Deus e, por amor d’Ele, nunca temer a batalha contra o mal, tanto fora como dentro de nós mesmos”, elencou.

Bento XVI lembrou ainda as recomendações da Santa para “meditar muitas vezes nos factos e nas palavras da vida de Jesus, sobretudo na sua paixão e morte; recordar-nos que temos de morrer; manter viva na mente a lembrança dos bens do Paraíso; ter familiaridade com a Sagrada Escritura, trazendo-a sempre no coração, para que oriente todos os nossos pensamentos e acções”.

Aos peregrinos de língua portuguesa, o Papa deixou uma “saudação de boas vindas”, em particular para o grupo de Escuteiros de Penedono, de Portugal, desejando “abundantes dons de graça e paz do Deus Menino”.