domingo, 13 de maio de 2012

Uma crítica construtiva sobre uma fala de um "Bispo" da Igreja Universal do Reino de Deus.É bom que vocês leiam.

Leniéverson Azeredo Gomes


Existem leituras informativas religiosas que nos deixam, de alguma forma, extasiados de alegria devido à beleza transcendente de seus parágrafos –, e, nos alimentam de coisas boas, tem uma lógica argumentativa consistente, etc. Entretanto, há leituras informativas que são dignas não se sabe de riso, de preocupação, de indignação e lá vai fumaça.
Um artigo divulgado no site Arca Universal, braço virtual da Igreja -ou seita- Universal do Reino de Deus (IURD), diz, dentre outras coisas que “um dos maiores medos do diabo é ver o povo de Deus crescendo e tendo melhores condições financeiras” e “Se o povo de Deus for pobre, então ninguém vai querer ouvi-lo nem respeitá-lo, pois a pobreza nesse mundo é sinal de fracasso”.
O autor desse artigo é, nada mais, nada menos que o autointitulado bispo Renato Cardoso. Esse cidadão é casado há 15 anos com Cristiane Cardoso, uma das filhas do “Bispo” Edir Macedo, fundador da IURD e Ester Bezerra. Com a Esposa, apresenta o programa “Love´s  School” ou em português, “Escola do Amor”, gravado na cidade americana de Houston, Texas, e, transmitido  pela IURD TV, pela Rede Record e Record News, que dá dicas sobre relacionamentos conjugais. Mas parece que nesse artigo, ele está ensinando a como conjugar com o deus Mamon ou deus dinheiro.
"Bispo" Renato Cardoso com a esposa, Cristiane Cardoso
Cristiane Cardoso, com o empre$ário da fé e Pai, Pedir Maiscedo
Se o internauta fizer uma rápida busca no Google irá perceber que não há, assim, quase nenhuma referência mais profunda sobre o “bispo” em questão. Só informações de onde ele mora atualmente, algumas missões e sua estória de amor com uma das herdeiras de um dos grupos ligados a Teologia da Pro$peridade, nada mais.
Tão obscuro quanto o seu passado é a sua teologia baseada na Sola Scriptura extremista e radicalista. Como alguém pode, por exemplo, pinçar um trechinho isolado de Eclesiastes 9,16 e dizer que a oração de um pobre será jamais atendida? Que base teológica tem isso? Para quem tem juízo apologético nenhuma, mas para os líderes dessa igreja seita, em particular o genro do Edir Macedo, tem muita. Segundo o “bispo” Renato Cardoso, Deus na passagem bíblica descrita acima não escutou a oração do pobre, porque o cidadão era obviamente pobre.
"Bispo" Renato Cardoso no "Templo é dinheiro" 
Mas o “bispo” esqueceu ou malandramente sonegou a informação – é preferível crer nessa última opção -, de que foi a sabedoria do pobre quem salvou a cidade, descrita nos versículos anteriores,  de um grande rei que além de vir contra ela, cercou-a e levou contra ela obras de assédio. Deus mesmo chama atenção na passagem de Eclesiastes:
“Mais vale a sabedoria do que a força, mas a sabedoria do pobre é desprezada e ninguém dá ouvido as suas palavras. Palavras calmas de sábios são mais ouvidas do que gritos de quem comandam insensatos. Mais vale sabedoria do que armas, mas um só pecador anula coisas boas”.
Deus afirma que o pobre salvou a cidade com a sua sabedoria e que Ele, Deus, prefere mais os sábios aos que se utilizam da força para conquistar alguém, alguma coisa ou algum território.
O livro de Eclesiastes, segundo uma interpretação própria da versão bíblica católica de Jerusalém, trabalha com “variações sobre um tema único, a vaidades das coisas humanas, que é afirmada do princípio ao fim do livro, onde tudo é decepcionante: a ciência, a riqueza, o amor e inclusive a vida”.
Bíblia de Jerusalém, editada no Brasil, pela Paulus.
A Escola Bíblica de Jerusalém chama atenção que o livro de Eclesiastes ensina uma verdadeira “lição de desapego dos bens terrestres e de que a felicidade é negada aos ricos”. Isso é provado no capítulo 5º, versículos 7ss, Deus nos mostra que “quem ama a abundância, nunca terá vantagem” e que “há um mal doloroso que se vê debaixo do sol: riquezas que o dono acumula para a sua própria desgraça”. Nesta passagem o Pai estabelece que a verdadeira felicidade se “encontra em todo o trabalho que é feito debaixo do sol, durante a vida que Ele nos concede”.
Como se vê, basta ler não um trecho isolado do texto, mas sim todo o contexto, para não se criar através da heresia, um pretexto para enganar as pessoas.
Se passarmos para o Novo Testamento, podemos ver que várias passagens claras, é em relação a riqueza, a começar pela passagem do nascimento de Jesus. Maria, sua mãe, O concebeu em uma manjedoura de animais, que fora colocado numa parede de um pobre alojamento, tão superlotado, que não se pôde encontrar melhor que este para deitar a criança. (Lc 2,6-7.12.16)
Jesus nasceu pobre numa manjedoura
Além disso, ao longo dos quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), podemos encontrar referências de que Jesus Cristo condenava riquezas, tinha preferência pelos pobres, sinalizava que os humildes teriam lugar no céu e sempre falava se sua própria pobreza, tendo em vista que José, seu pai adotivo trabalhava como carpinteiro e, portanto, tinha um padrão de vida bastante humilde. Eis algumas passagens que comprovam isso:
·         “Bem-aventurados os que têm o coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!”(Mt 5,3);
·         “Ninguém pode servir a dois senhores, pois ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se á um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a riqueza”. (Mt 6,24);
·         “As raposas têm suas tocas e as aves do céu, seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. Uma das disposições para seguir Jesus, ditas pelo próprio Jesus. (Mt 8, 18-20);
·          “Por que come vosso mestre come vosso mestre com os publicano e com os pecadores?” Discípulos questionando a Jesus. (Mt 9,10-11);
·         “Não leveis nem ouro, nem prata, nem dinheiro em vossos cintos, nem mochila para a viagem, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão, pois o operário merece o seu sustento”. O dinheiro dos fiéis tem de ser revertido estritamente para a missão e isso é uma instrução de Jesus aos seus apóstolos.  (Mt 10,8-10);
·         O evangelho revelado aos humildes (Mt 11,25-29);
·         Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus. (Mt 18,4);
·         “É mais fácil um camelo passar pelo buraco [fundo] de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus”. – Parte final do diálogo de Jesus com um jovem rico que não quis distribuir seus bem para seguir o Filho de Deus. (Mt 19,16-23).
·         “Se o servo for fiel no pouco, Cristo nos confiará mais” – Parábolas dos talentos (Mt 25,14-30);
·         “Em verdade vos digo, todas as vezes que fizestes isso a um destes pequeninos (necessitados), foi a mim mesmo que o fizestes. Parábola do juízo final (Mt 25,40);
·         “Se alguém quiser me seguir, renuncie-se a si mesmo,  toma a sua cruz e me siga”. (Mc 8,34);
·         “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18). Jesus lendo ao povo da Galileia um trecho do livro de Isaías. (Is 6,1ss)
·     “A Vida vale mais do que o sustento e o corpo mais que as vestes” – Uma das vãs preocupações descritas em Lc 12, 22-34;
·     “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado” (Lc 14,11);
Ilustração da Parábola do Rico e o Pobre Lázaro
·   Parábola do Rico e o Pobre Lázaro – Conta a estória de um rico cheio de opulência que só dava migalhas a um pobre mendigo chamado Lázaro. Vieram a morte aos dois, enquanto o pobre foi elevado aos céus e ao seio de Abraão pelos anjos, o rico foi destinado a sofrer tomentos, de todos os tipos e de todos os gêneros no inferno.(Lc 16,19-31);
Fora outras passagens em que Jesus ouvia e curava coxos, paralíticos e cegos, se fazia presente e convertia pessoas. São Pedro, um dos apóstolos de Jesus Cristo, em Atos 10,34b-35, mostrava sua “compreensão de que Deus não fazia acepção ou distinção entre as pessoas, muito pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença”. São Pedro também fazia perguntas como essa: “pode-se, por acaso, negar a água do batismo a estas pessoas [pagãos] que receberam, como todos, o Espírito Santo?” (At 10,47).
Se a questão da sola scriptura defendida pelas Igrejas protestantes históricas já é problemática em si mesma, imaginem as usadas pelas seitas adeptas da teologia da pro$peridade? Cada herético com sua heresia e, cada ingênuo com sua ingenuidade elevada à milésima potência.