quarta-feira, 3 de abril de 2013

Porque a morte do cantor Chorão não pode ser entendida de qualquer maneira? Leia e tire suas conclusões.







Leniéverson Azeredo Gomes

Você deve estar estranhando esse artigo ser postado com quase um mês de atraso, mas foi proposital. Um mês após a morte de Chorão, nada mais se fala sobre o cantor, que foi encontrado morto em um apartamento, na capital paulista.


   Grande parte de nós brasileiros ficamos chocados, depois de ver nos meios de comunicação social informativo, a morte do Chorão, vocalista da banda de Pop Rock, Charlie Brown Jr., aos 42 anos, na manhã desta quarta-feira, dia 6 do mês passado de março. Ele foi encontrado de bruços em um apartamento na capital paulista. Lá foi encontrado, dentre outras, um pó branco, que a polícia irá investigar se o referido material é cocaína ou não. Chorão estava sem se comunicar com a família e amigos, já havia um pouco mais de 24 horas.
O músico era uma referência para muitas pessoas, sobretudo na faixa etária entre 14 e 30 anos. As composições dele eram verdadeiras poesias, mas para alguns amigos e familiares, o vocalista estava vivendo uma forte depressão. Recentemente, havia se separado da esposa, com quem teve um filho, hoje com 21 anos. Segundo alguns especialistas no setor fonográfico, o Chorão tinha ainda muitos anos de carreira e, sua morte, deixará um vazio muito grande no cenário artístico.
Essa estória lembrou a minha adolescência, quando vi lideres de bandas sucumbirem às drogas. Em 1994, o vocalista da banda de rock americana, Nirvana, Kurt Cobain, foi encontrado sozinho em um apartamento na cidade de Seattle, num surto psicótico, por causa das drogas, deu um tiro na própria cabeça.
Outros artistas igualmente talentosos como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Amy Winehouse, Whitney Houston, Mitchell Hutchence (Vocalista do INXS), em comum, morreram sozinhas em apartamentos por algum efeito ou consequência pelo uso de entorpecentes.  É a conhecida e complexa relação Sexo, Drogas & Rock in roll.
Cada um desses artistas possuem duas pessoas dentro de si mesmas. A pessoa midiática e a pessoa física. A pessoa midiática, normalmente é aquela existente do ponto de vista dos fãs, do meio fonográfico, dos meios de comunicação especializados, dos colegas de profissão musical – sejam eles cantores, instrumentistas ou produtores artísticos. Via de regra, a pessoa midiática é considerada, sobretudo para os fãs e a imprensa como uma figura idolatrada, exercendo assim, a figura de um Deus na mídia. É muito comum encontrar, no caso de músicos que cantam ou tocam rock – desde que sejam ótimos – os títulos de Papas do Rock, Dinossauros do Rock, Lendas do Rock, Mitos do Rock, dentre outros.
A pessoa midiática é aquela que constrói um mundo particular e muitas vezes considerado por muitos, um universo glamouroso. Afinal são entrevistas e apresentações musicais na televisão, rádio, jornal e internet; participações em anúncios publicitários; não raro chamados para campanhas de cunho social, etc.
Grosso modo, a pessoa midiática que toca ou canta em uma banda de rock, exerce na juventude, o principal consumidor desse tipo de ritmo musical, uma gama de influência sobre a mesma, seja no modo de se vestir, no modo de falar, nos trejeitos gestuais, formam tribos, entre outras coisas.
A minha geração de adolescente, nos anos 90, assistiu a perda do Kurt Cobain e do Mitchell Hutchence e, assim, como nos dias atuais muitos eram atraídos pela vontade de assistir os shows, até brigar com os pais para ir ás apresentações, enfim, gostar de uma banda de rock era uma questão de atitude, de transgressão e de rebeldia.
Viviamos e respirávamos a moda grunge – camisas largas com estampas de bandas de rock, caveira ou relacionada a algum filme de terror, bermudas quadriculadas até um pouco abaixo do joelho, brincos na orelha ( no caso masculino) -. Todos aqueles que seguiam esse visual ‘transado’, era aceito pela tribo e imediatamente era chamado de sujeito deschavado ou dischavado.
Havia bandas de garagens, onde músicos juvenis manifestavam seu talento musical em pequenos espaços dentro da residência de algum dos componentes ou em algum lugar alternativos. É verdade e é preciso ser justo, que nem todo mundo usava drogas, mas sim uma maioria conceitual que emporcalhava o corpo com drogas lícitas e ilícitas.
Recordo-me de ter visto vários colegas, adolescentes como eu, à época, que usavam cheirinho de loló, lança-perfume, maconha, cocaína, e, drogas lícitas como a bebida alcoólica e cigarro. Já perdi amigos de infância por causa de overdose ou dívida de tráfico. Era de cortar o coração. 
Normalmente, nós temos uma dificuldade de perceber que o ser que canta ou toca, além de ter dentro de si a pessoa midiática, tem a pessoa física. Pessoas físicas, normalmente tem um nome de batismo, tem família, têm sentimentos, carências, necessidades, busca por transcendência – aquela em que a pessoa procura um sentido a vida -, dentre outras coisas e questões.
Por trás do apelido, que foi dado em um dos ambientes que ele mais amava, que era a pista de skate, havia o Alexandre Abrão, uma pessoa que apesar do óbvio amor da família, possuía dentro de si, um vazio espirituais sem tamanho. Rodolfo Abrantes, ex-vocalista do Raimundos – que ‘chocou’ o país, pasme, por dizer que se converteu ao cristianismo -,  e, amigo de Chorão, tinha aconselhado ao cantor, nascido em Santos/SP, a procurar uma igreja: sem sucesso.
 Músicos como o Chorão, não era só uma pessoa midiática, portanto, famosa. Chorão era uma pessoa física, humana, mas que não soube administrar seus dramas internos.No mundo do Rock, é preciso tirar o véu da hipocrisia, não tentar varrer o problema para debaixo do tapete, como fez, por exemplo, o vocalista dos “Detonautas”, Tico Santa Cruz que, dentre outras coisas, criticou negativamente, a postura da imprensa por postar fotos pos-mortem de Chorão com substâncias duvidosas. Oras, pessoas públicas são públicas e, quem está na chuva é para se mulher. Quem não quer ser pessoa pública, que não entre numa carreira artística, ora bolas.
O que não se pode é dar chiliques, fazer de conta que o envolvimento de artistas, com o mundo das drogas é só um detalhe. Não é, e mais quem é ídolo de uma geração, deveria assumir a responsabilidade de, aproveitar a morte de um dos seus, para colocar, emprestar seus rostos em campanhas contra o uso de drogas e não de Movimentos do tipo “Eu preciso mudar” que, grosso modo, quer liberar e descriminalizar o uso e a venda de drogas.
Caso contrário, a cada morte de um cantor, seja lá qual for o ritmo músical, por uso de drogas, seremos obrigados dolorosamente a cantar com adaptação ¯Meus heróis estão morrendo de overdose e os nossos inimigos estão no poder. Ideologia, eu quero uma pra viver....¯