Leniéverson
Azeredo Gomes
Frank Castle é
um típico cidadão nova-iorquino, e, muito jovem, entrou para a academia de polícia,
seguindo o exemplo do pai, que também
era policial. Ao se formar, passou a lutar – fardado - incansavelmente durante
a semana, contra os mais diversos tipos de crimes, principalmente aqueles
que eram praticados no subúrbio da maior cidade dos Estados Unidos. Ele se casou com uma formidável mulher e,
desse relacionamento, gerou um lindo casal de filhos. O policial Castle é um
pai e um marido zeloso e superprotetor, que todos os dias, na medida do
possível, sentava junto com o restante da família para ingerir as refeições
diárias.
No entanto, um
acontecimento marcaria para sua vida. Num dia de folga, leva sua família para
fazer um piquenique no Central Park – uma imensa área urbanizada de Nova York
-. Ao chegar, Castle, deixa a mulher e os filhos – á época tinham entre 7 e 10 anos – que
estavam correndo ou soltando pipa, para comprar algo. Na volta, vê sua esposa e
filhos serem assassinados por uma gangue de assaltantes.
Após o fato,
passou a se responsabilizar pelo ocorrido, porque, como policial treinado para
ser agente da lei, não podia ter deixado a família sozinha. A partir de então,
Frank Castle viveu uma intensa batalha psicológica entre o desejo ou não de
revanche. Mas, o anseio por vingança, falou mais alto.
Resolve
abandonar a carreira policial, faz alguns investimentos na compra de diversas armas
de fogo, armas brancas – como faca -, instrumentos de luta marcial oriental –
como nunchaku -, e, um uniforme colant preto‘sui generis’ que continha uma
caveira grande, no meio do peito. Além disso, ele passa a desenvolver técnicas
de lutas para, vingar a morte da sua família e defender a cidade de bandidos e
mafiosos, como o Wilson Fisk – mais conhecido como o Rei do Crime-.
Talvez algumas
pessoas estejam se perguntando, essa estória é real? Não, não é real. Trata-se
de parte da narrativa biográfica de um dos mais famosos personagens da revista
em quadrinhos, chamado Justiceiro (The Punisher, em Inglês). Concebido nos anos
80, pela Marvel Comics, e, desenhado por Stan Lee, o Justiceiro, como o próprio
nome diz, fazia justiça com as próprias mãos, com sua própria ética, com seu
próprio valor moral.
O personagem da ficção alternava sua imagem
entre o herói – o que preponderava – e o vilão. Ídolo de gente de quase todas
as idades, a saga de Frank Castle chegou a virar um filme, nos anos 90, com
pessoas de carne e osso, onde o protagonista foi interpretado pelo ator Dolph
Lundgren.
Mas é preciso
cuidado para que a vida, nesse caso, não imite a arte. Pois, muita gente, pode
querer virar justiceiros, fazendo vingança com as próprias mãos. É o que vem
acontecendo, por exemplo, e foi destacado na imprensa, no Rio de Janeiro. O
caso mais chamativo é a de um jovem – na verdade um menor de idade - que foi
preso e acorrentado, no início desse mês, a um poste, porque teria – teria
porque ainda não se teve a comprovação, apesar de relatos de testemunhas – de
que ele teria praticado furtos no Flamengo, bairro da Zona Sul da capital
fluminense. Ele foi retirado pela socióloga Yvone Bezerra de Mello, e, após isso
tirou uma foto com o suposto menor infrator e postou em redes sociais. As
imagens foram publicadas em sites de notícias, gerando uma revolta de
militantes dos direitos humanos. Fizeram uma pesquisa para saber se as pessoas
concordam a ação dos chamados “Justiceiros do Flamengo”, que colocaram o menor
lá, a grande maioria disse que sim. O que assustou o povo dos Direitos dos
Manos. Aqui, não se trata de defender a instituição ‘justiça com as próprias
mãos’. Nãooooo! Eu sou contra certas coisas, não no seu mérito, mas porque há
outros caminhos fundamentados na ordem, no legalismo, no legislativo, etc, para
resolver questões ligadas a política de Segurança Pública.
A Sociologia
diz que vivemos um período de anomia, ou seja, um momento em que, cada vez
mais, se despreza as normas, os valores morais e éticos, a constituição, da
decência, o pudor, o caráter, dentre outras coisas. No caso do jovem pendurado,
no Rio de Janeiro, em que pese o fato de o mesmo ser culpado ou inocente e; se
praticado por milícias ou não, verifica-se que, ‘o fazer justiça sem o amparo
das forças de segurança oficial’, tem evidentemente um significado profundo,
onde vários furtos, roubos e assassinatos praticados por menores e adultos, uma
justiça morosa – com processos que se acumulam por anos, em plena era da
informática -, uma legislação que mais
protege bandidos do que as vítimas dos bandidos e o excesso de proteção a
bandidos por ONGS de Direitos Humanos – ou seria dos Direitos dos Manos?-.
Mas apesar de
tudo isso, os fins não justificam os meios, como diria Maquiavel. Graus de
anomia não justifica fazer coisas de forma antiética, fora da justiça
convencional. Da mesma forma que eu não aprovo a ação de black blocs mascarados
e vândalos – viram a questão do
cinegrafista da Band?-, não defendo ocupação de reitorias – como a USP -, não
defendo invasão de centro de pesquisa que usa animais-, dentre outras coisas,
porque, somos um país ordeiro, democrático, onde é preciso – apesar da letargia
– acionar os mecanismos de resolução oficial para conquistarmos os nossos
anseios. Caso contrário, o Brasil se transformará na terra da barbárie cheia de
Frank Castles tupiniquins. O que acham? Tudo, mais uma vez, é questão de
escolha.
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