sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Frank Castle e os justiceiros informais. Ou: Porque algumas vezes, quando a vida imita a arte, o resultado é o contrário que se espera?

Leniéverson Azeredo Gomes

Frank Castle é um típico cidadão nova-iorquino, e, muito jovem, entrou para a academia de polícia, seguindo o exemplo do pai,  que também era policial. Ao se formar, passou a lutar – fardado - incansavelmente durante a semana, contra os mais diversos tipos de crimes, principalmente  aqueles  que eram praticados no subúrbio da maior cidade dos Estados Unidos.  Ele se casou com uma formidável mulher e, desse relacionamento, gerou um lindo casal de filhos. O policial Castle é um pai e um marido zeloso e superprotetor, que todos os dias, na medida do possível, sentava junto com o restante da família para ingerir as refeições diárias.
No entanto, um acontecimento marcaria para sua vida. Num dia de folga, leva sua família para fazer um piquenique no Central Park – uma imensa área urbanizada de Nova York -. Ao chegar, Castle, deixa a mulher e os filhos –  á época tinham entre 7 e 10 anos – que estavam correndo ou soltando pipa, para comprar algo. Na volta, vê sua esposa e filhos serem assassinados por uma gangue de assaltantes.
Após o fato, passou a se responsabilizar pelo ocorrido, porque, como policial treinado para ser agente da lei, não podia ter deixado a família sozinha. A partir de então, Frank Castle viveu uma intensa batalha psicológica entre o desejo ou não de revanche. Mas, o anseio por vingança, falou mais alto.
Resolve abandonar a carreira policial, faz alguns investimentos na compra de diversas armas de fogo, armas brancas – como faca -, instrumentos de luta marcial oriental – como nunchaku -, e, um uniforme colant preto‘sui generis’ que continha uma caveira grande, no meio do peito. Além disso, ele passa a desenvolver técnicas de lutas para, vingar a morte da sua família e defender a cidade de bandidos e mafiosos, como o Wilson Fisk – mais conhecido como o Rei do Crime-.
Talvez algumas pessoas estejam se perguntando, essa estória é real? Não, não é real. Trata-se de parte da narrativa biográfica de um dos mais famosos personagens da revista em quadrinhos, chamado Justiceiro (The Punisher, em Inglês). Concebido nos anos 80, pela Marvel Comics, e, desenhado por Stan Lee, o Justiceiro, como o próprio nome diz, fazia justiça com as próprias mãos, com sua própria ética, com seu próprio valor moral.
O  personagem da ficção alternava sua imagem entre o herói – o que preponderava – e o vilão. Ídolo de gente de quase todas as idades, a saga de Frank Castle chegou a virar um filme, nos anos 90, com pessoas de carne e osso, onde o protagonista foi interpretado pelo ator Dolph Lundgren.  
Mas é preciso cuidado para que a vida, nesse caso, não imite a arte. Pois, muita gente, pode querer virar justiceiros, fazendo vingança com as próprias mãos. É o que vem acontecendo, por exemplo, e foi destacado na imprensa, no Rio de Janeiro. O caso mais chamativo é a de um jovem – na verdade um menor de idade - que foi preso e acorrentado, no início desse mês, a um poste, porque teria – teria porque ainda não se teve a comprovação, apesar de relatos de testemunhas – de que ele teria praticado furtos no Flamengo, bairro da Zona Sul da capital fluminense. Ele foi retirado pela socióloga Yvone Bezerra de Mello, e, após isso tirou uma foto com o suposto menor infrator e postou em redes sociais. As imagens foram publicadas em sites de notícias, gerando uma revolta de militantes dos direitos humanos. Fizeram uma pesquisa para saber se as pessoas concordam a ação dos chamados “Justiceiros do Flamengo”, que colocaram o menor lá, a grande maioria disse que sim. O que assustou o povo dos Direitos dos Manos. Aqui, não se trata de defender a instituição ‘justiça com as próprias mãos’. Nãooooo! Eu sou contra certas coisas, não no seu mérito, mas porque há outros caminhos fundamentados na ordem, no legalismo, no legislativo, etc, para resolver questões ligadas a política de Segurança Pública.
A Sociologia diz que vivemos um período de anomia, ou seja, um momento em que, cada vez mais, se despreza as normas, os valores morais e éticos, a constituição, da decência, o pudor, o caráter, dentre outras coisas. No caso do jovem pendurado, no Rio de Janeiro, em que pese o fato de o mesmo ser culpado ou inocente e; se praticado por milícias ou não, verifica-se que, ‘o fazer justiça sem o amparo das forças de segurança oficial’, tem evidentemente um significado profundo, onde vários furtos, roubos e assassinatos praticados por menores e adultos, uma justiça morosa – com processos que se acumulam por anos, em plena era da informática -,  uma legislação que mais protege bandidos do que as vítimas dos bandidos e o excesso de proteção a bandidos por ONGS de Direitos Humanos – ou seria dos Direitos dos Manos?-.
Mas apesar de tudo isso, os fins não justificam os meios, como diria Maquiavel. Graus de anomia não justifica fazer coisas de forma antiética, fora da justiça convencional. Da mesma forma que eu não aprovo a ação de black blocs mascarados e vândalos  – viram a questão do cinegrafista da Band?-, não defendo ocupação de reitorias – como a USP -, não defendo invasão de centro de pesquisa que usa animais-, dentre outras coisas, porque, somos um país ordeiro, democrático, onde é preciso – apesar da letargia – acionar os mecanismos de resolução oficial para conquistarmos os nossos anseios. Caso contrário, o Brasil se transformará na terra da barbárie cheia de Frank Castles tupiniquins. O que acham? Tudo, mais uma vez, é questão de escolha. 

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