quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Departamento de Justiça e Solidariedade do Celam divulga mensagem após encontro

Foi divulgada a mensagem final do encontro das equipes de apoio e reflexão do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) que se reuniu entre os dias 11 e 15, em Bogotá, na Colômbia. A mensagem expressa propostas e preocupações na “perspectiva da promoção de um desenvolvimento humano integral, solidário e inclusivo de nossos povos”.

O texto se preocupa exclusivamente com o desenvolvimento da América Latina e Caribe e aponta também uma longa distância até se concretizar o sonho do desenvolvimento no continente. “A realidade dos processos e estilos chamados de desenvolvimento em nosso continente estão muito longe de ser isso, apesar dos notáveis esforços que vêm sendo dados”, frisa um trecho da mensagem.

Para as equipes de reflexão, o crescimento da economia da AL é visível, porém não tem favorecido a diminuição das desigualdades na região. “Tem sido notável o crescimento econômico na Região da América Latina e Caribe [...] não obstante, a pobreza geral continua afetando mais de um terço da população [...]”, aponta outro trecho.

A esfera política é outro ponto enfatizado na mensagem. As equipes também apontam avanços na democracia participativa nos espaços locais, porém, “prevalece a concentração do poder em determinados grupos de elite e se continua evidenciando clamorosas situações de corrupção, o incremento do narcotráfico e outros grupos do crime organizado dedicados ao tráfico de migrantes e ao trato de pessoas [especialmente de crianças e adolescentes] com fins de sujeição a todo tipo de escravidão”.

Esperança

Após apontar alguns obstáculos que ofuscam o desenvolvimento da América Latina, a mensagem destaca que os esforços para o bem do desenvolvimento do continente, como também algumas experiências solidárias, são razões para se acreditar na esperança de dias melhores para a região. “Causam esperança os esforços de nossos povos em experiências de economia solidária e comércio justo que vão conquistando um dinamismo econômico com maior vigência na região [...]”.

O encontro reuniu 63 pessoas de 14 países da América Latina, Caribe e Europa. Representaram o Brasil, entre outros, o Dr. Nelson Arns Neumann, Ademar Bertucci, padre Cláudio Ambrósio, irmã Rosita Milesi. A reunião contou também com a presença do cardeal arcebispo de Santa Cruz de la Sierra e presidente do Departamento de Justiça e Solidariedade, dom Julio Terrazas; e do cardeal arcebispo de Aparecida e presidente do Celam, dom Raymundo Damasceno Assis.

O objetivo do encontro foi planejar o próximo quadriênio de atividades do Departamento de Justiça e Solidariedade do Celam.

O Departamento de Justiça e Solidariedade do Celam tem por objetivo animar, promover e fortalecer o processo de transformação da realidade latinoamericana, a partir da solidariedade e à luz do Evangelho. O órgão conta com três seções: Pastoral Social, Mobilidade Humana e Leigos e Construtores da Sociedade.

Leia baixo, mensagem na íntegra

Mensagem Final

DEPARTAMENTO JUSTIÇA E SOLIDARIDADE – CELAM

Impulsionar um desenvolvimento humano, integral, solidário e inclusivo

Nos dias 11 a 14 de fevereiro de 2011, nos reunimos, em Bogotá, bispos, equipes de apoio e reflexão do Departamento Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano, para avaliar a gestão 2007-2011 e fazer propostas para o próximo planejamento do Departamento no contexto da Missão Continental, que assumimos a partir da V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida.

No espírito de serviço e comunhão que caracteriza o Celam, compartilhamos com as Comissões de Pastoral Social, Cáritas, organismos relacionados à Justiça e Solidariedade, com enteidade que trabalham com migrantes e na pastoral do turismo das Conferências Episcopais da América Latina e Caribe, com os agentes pastorais e líderes sociais, para expressar nossas preocupações, esperanças e propostas na perspectiva da promoção de um desenvolvimento humano integral, solidário e inclusivo de nossos povos. Tal como o propõe o Documento de Aparecida (cf. DA 474), na fidelidade ao Concílio Vaticano II, que nos manifesta que as alegrias e as esperanças, as tristezas e angústias dos povos, especialmente dos mais pobres e excluídos, são alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos de Cristo (cf. GS 1).

A realidade de nossa região e os processos de desenvolvimento

1. O Papa Paulo VI dizia já na Encíclica Populorum Progressio que o desenvolvimento é “o passo para toda a pessoa e para todas as pessoas de condições de vida menos humanas a condições de vida mais humanas” (PP 20). Contudo, a realidade dos processos e estilos chamados de desenvolvimento em nosso continente estão muito longe de ser isso, apesar dos notáveis esforços que vêm sendo dados.

2. Tem sido notável o crescimento econômico da Região da América Latina e Caribe, especialmente no ano de 2010. Não obstante, a pobreza geral continua afetando mais de um terço da população e o índice médio da desigualdade é o mais elevado em comparação com os outros continentes do mundo, reforçando situações persistentes de miséria desumanizadora (cf. Caritas in veritate 22). Esta situação nos move a renovar com força nossa opção preferencial pelos pobres.

3. A taxa de desemprego na região continua próxima a 8% da população economicamente ativa, que é acompanhada pelo emprego precário ou subemprego, que afeta mais de um terço desta mesma população. Prevalecem políticas de desregulamentação das relações trabalhistas aplicadas nas últimas décadas, que impede um trabalho digno e decente, com salários justos, seguridade social e direito à sindicalização.

4. Entre as principais causas das situações acima mencionadas encontramos um processo de concentração da riqueza em poucas mãos, uma importante expatriação dos ganhos das empresas transnacionais, uma injusta distribuição da riqueza no interior de nossos próprios países, assim como políticas fiscais regressivas que punem mais os pobres.

5. É necessário assinalar a forte degradação de solos e da água, a perda da biodiversidade, as catástrofes climáticas, o avanço da desertificação, entre outros, são uma constante na região que põem em risco todas as populações. O enfoque econômico predominante não tem em conta o limite físico dos recursos renováveis e não renováveis. Pelo contrário, o desenvolvimento, entendido como crescimento econômico, se reduz ao livre mercado, que só busca maximizar o lucro, deixando assim a pessoa humana relegada. Tudo isso nos faz ver a insustentabilidade destes processos. Como Igreja devemos fazer ouvir nossa voz, prevenindo a destruição da humanidade (cf. CIV 51-b).

6. Neste contexto, preocupa-nos o privilégio da livre circulação de capitais e de bens, mas não de pessoas. Tem crescido a consciência sobre os direitos humanos civis e polítios, mas não se percebe o mesmo avanço em relação aos direitos econômicos, sociais, culturas e ambientais.

7. Deste modo, não se dá um enfoque de autêntico desenvolvimento humano e continuamos percebendo os rostos sofridos dos que se encontram excluídos dos sistemas de saúde, privilegiando-se programas compensatórios e não políticas universais como direitos das pessoas. Além disso, as prisões continuam sendo espaço de castigo e desumanização, onde se pretende, ingenuamente, “prender o mal”.

8. Na esfera política, se bem que haja importantes avanços na democracia participativa nos espaços locais, prevalece a concentração do poder em determinados grupos de elite e se continua evidenciando clamorosas situações de corrupção, o incremento do narcotráfico e outros grupos do crime organizado dedicados ao tráfico de migrantes e ao trato de pessoas (especialmente de crianças e adolescentes) com fins de sujeição a todo tipo de escravidão.

Há razões de esperança

9. Contudo, causam esperança os esforços de nossos povos em experiências de economia solidária e comércio justo que vão conquistando um dinamismo econômico com maior vigência na região, assim como a importante rede de agentes comunitários de saúde, a existência de organizações sociais, indígenas e urbanas, para preservação ecológica do meio ambiente, especialmente na Amazônia e as biodiversidades na Região. Constata-se a incidência por políticas e leis e a existência de grupos e redes que trabalham pela defesa dos direitos humanos de migrantes e refugiados, das crianças e adolescentes, e a transformação da vida das pessoas encarceradas e sua reinserção na sociedade.

10. Vemos também a emergência da sociedade civil com distinta do mercado e do Estado. Ela se expressa através de movimentos e organizações populares que agrupam os distintos setores da sociedade. Eles são novos agentes no espaço público na luta por interesses universais que buscam o bem comum.

O caminho que estamos fazendo

11. Frente a esta realidade que nos comove e interpela, queremos colocar em comum as respostas que temos dado a partir dos diversos âmbitos da pastoral social, respostas que, de modo geral, em parceria solidária com importantes grupos e redes da sociedade civil e movimentos sociais, e encaminham até a mudança das estruturas injustas da sociedade (cf. DA 383).

12. Temos encorajado os grupos de economia solidária e comércio justo, incentivado reflexões e propostas para uma autêntica responsabilidade social empresarial pois, como dizia João Paulo II, a empresa é, antes de tudo, uma comunidade de pessoas (cf. CA 43). Têm se feito vigorosos esforços diante dos governos para uma revisão e atualização de leis de migração nos distintos países, dando-lhes um enfoque de direitos humanos dos migrantes e refugiados e para implementar instrumentos internacionais tais como a Convenção para a proteção dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras migrantes e suas famílias. Da mesma forma, tem-se avançado na defesa dos direitos dos ciganos, na atenção a pessoas em situação de rua e a outros grupos itinerantes.

13. Consideramos importante fortalecer a Pastoral do Turismo para evangelizar esta realidade no crescimento contínuo, que exige um dinamismo particular para responder a desafios que se apresentam de modo contínuo.

14. Vem sendo trabalhada a construção de uma consciência comum dos desafios ambientais e ecológicos. Hoje se tem conhecimento de uma plataforma latino-americana para poder desenvolver estratégias pastorais comuns que contribuam para o saneamento urgente da criação (cf. Caritas in Veritate 50).

15. Têm-se realizado esforços pelo direito à saúde, sua promoção e a prevenção de enfermidades de maior urgência. Nesta ação social, é promovido o diálogo ecumênico, inter-religioso e com as autoridades civis.

16. Vem se trabalhando na defesa dos direitos das crianças e adolescentes com incidência em políticas públicas que reconheçam seus direitos.

17. Estão sendo dados passos na formação dos leigos e leigas para animar seu compromisso com a transformação da realidade nos âmbitos social, político, econômico, cultural, ecológico. Como cristãos e cristas, temos buscado intensificar nossa presença entre os trabalhadores, trabalhadoras e suas organizações e animar nossa Igreja em seu compromisso por cauda da justiça, da paz, da solidariedade, e a participação para o bem comum.

18. Além disso, temos reforçado nossa presença nas prisões e a denúncia do modelo carcerário e do enfoque que propõe mais prisões como solução.

Cooperação entre a sociedade e a Igreja

19. Destacamos um novo papel da sociedade civil no resgate da fraternidade, da liberdade, da igualdade, tendo em conta que se dá um processo intercultural nas comunidades. A Igreja é chamada a ajudar na mediação entre a cultura globalizada e as expressões culturais na região.

20. Como cristãos, sentimo-nos desafiados a fazer todo o possível para mudar o rumo do mundo para o pleno respeito da dignidade humana, a acompanhar os que propõem novos modelos de desenvolvimento e convivência que favoreçam a integridade da pessoa. Precisamos voltar a ser o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5,13-16), para ajudar a transformar a partir de dentro as culturas e, especialmente, os estilos de vida consumistas predominantes. Cabe a nós trabalhar conjuntamente na formação das consciências e tornar a vida terrena mais digna do ser humano, para que todos, em Cristo, tenhamos vida e vida em plenitude (Jo 10,10).

21. A partir deste nosso compromisso com a edificação do Reino de Deus no mundo, oferecemos o serviço da formação na Doutrina Social da Igreja como “inestimável riqueza, que anima o testemunho e a ação solidária dos leigos e leigas, aqueles que se interessam cada vez mais por sua formação teológica, como verdadeiros missionários da caridade, e se esforçam por transformar de maneira efetiva o mundo segundo Cristo” (DA 99g).

Desafios de nossa realidade diante do desenvolvimento humano integral e solidário como horizonte para a Região

22. Aprofundar a orientação da Região para um processo de desenvolvimento humano integral e solidário, que tenha como base o cuidado da criação e como ponto de partida dos esforços das populações empobrecidas e excluídas para sair destas situações de pobreza e exclusão através de múltiplas formas de solidariedade econômica e em outros âmbitos mencionados. É necessário articular-se com esforços de responsabilidade social empresarial, de políticas públicas inclusivas, de processos internacionais de globalização da solidariedade.

23. Desenvolver estratégias pastorais que permitam recuperar o olhar da fé sobre a criação e o crescimento de uma consciência de mudança nos padrões de desenvolvimento econômico e de consumo a modos sustentáveis, que preservem a qualidade de nossos ecossistemas, através da incidência na política nacional e internacional, partido de nossas comunidades locais. É necessário promover estilos de vida sóbrios e simples, com hábitos saudáveis.

24. Quanto às políticas migratórias, abrir definitivamente as fronteiras de nossos países, que todos e todas sejam reconhecidos cidadãos da América Latina e do Caribe como pátria comum. Continuar os esforços de garantir acesso universal à saúde e à formação e educação permanente nele.

25. É urgente repensar o direito ao trabalho, considerando-o não como problema do mercado, mas do Estado e da sociedade, como um problema de cidadania, do exercício de seus direitos e capacidades. O trabalho digno, decente, é uma das melhores ferramentas para libertar os cidadãos do temor da pobreza, de todo tipo de dependência. A valorização do trabalho é elemento central do desenvolvimento solidário.

26. Reorganizar a ação social e a pastoral carcerária em nível regional e continental a fim de indicar, com maior efetividade, o modelo de desenvolvimento integral humano, questionando com mais força o atual modelo de desumanização carcerária a partir do enfoque da dignidade das pessoas.

Como discípulos missionários de Jesus Cristo, nos comprometemos a contribuir para a construção de projetos de nações justas, solidárias e em paz para o desenvolvimento humano, integral, solidário e inclusivo.

Damos graças a Deus pelo caminho feito e pedimos perdão por aquilo que nos impede de viver como Discípulos Missionários no mundo. Imploramos sabedoria e fortaleza para impulsionar a Missão Continental da Igreja da América Latina e Caribe nos distintos âmbitos da sociedade.

Renovamos nossa confiança no grande carinho da Virgem Maria de Guadalupe por todos seus filhos e filhas deste Continente e nos recolhemos à sua maternal proteção.

Bogotá, fevereiro de 2011

Tradução: Assessoria de Imprensa/CNBB

Papa Bento XVI divulga mensagem para a Quaresma 2011

A partir da quarta-feira de cinzas, dia 9 de março, a Igreja inicia o tempo da Quaresma, em preparação à Páscoa. O papa Bento XVI divulgou na manhã de hoje, terça-feira, 22, a Mensagem para Quaresma 2011. Na mensagem, o papa cita a importância do Batismo na vida do cristão e a Quaresma, como ocasião para essa reflexão.

“Um vínculo particular liga o Batismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva”, diz Bento XVI, num dos trechos da mensagem.

O Papa ressalta a relevância do Batismo como sendo uma atual fonte de conversão: “O Batismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do batizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo”.

No texto, o papa afirma ainda a importância da palavra de Deus como direção para viver “com o devido empenho este tempo litúrgico precioso. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus?”.

“Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Batismo”, assim termina a mensagem do papa Bento XVI para a Quaresma 2011.

Leia o texto na íntegra:

“Sepultados com Ele no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes” (cf. Cl 2, 12).

Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).

1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Batismo, quando, “tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo” iniciou para nós “a aventura jubilosa e exaltante do discípulo” (Homilia na Festa do Batismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010).

São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O fato que na maioria dos casos o Batismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo», é comunicada gratuitamente ao homem.

O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa “conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos” (Fl 3, 10- 11). O Batismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do batizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo.

Um vínculo particular liga o Batismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal» (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De fato, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Batismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8,).

Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Batismo como um ato decisivo para toda a sua existência.

2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é batizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele.

O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição dos homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Hb 6, 12), no qual o diabo é ativo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.

O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5).

É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor. O pedido de Jesus à Samaritana: “Dá-Me de beber” (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da “água a jorrar para a vida eterna” (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos “verdadeiros adoradores” capazes de rezar ao Pai “em espírito e verdade” (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, “enquanto não repousar em Deus”, segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.

O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: ”Tu crês no Filho do Homem?”. “Creio, Senhor” (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como “filho da luz”.

Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: “Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?” (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: “Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27).

A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência:

Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas batismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos “da água e do Espírito Santo”, e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à ação da Graça para sermos seus discípulos.

3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Batismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a “terra”, que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a “palavra da Cruz” manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus cáritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).

No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida.

Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projetos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia.

Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciamos no dia do Batismo. A oração permite-nos também adquirir uma nova concepção do tempo: de fato, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que “as suas palavras não passarão” (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele “que ninguém nos poderá tirar” (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna.

Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.

Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Batismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas ações. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.

Vaticano, 4 de Novembro de 2010

BENEDICTUS PP XVI

Dom Eugênio Rixen fala sobre o 5º Seminário Nacional de Catequese Junto à Pessoa com Deficiência

A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética da CNBB procura dar uma formação catequética para todas as pessoas, sem distinção, inclusive às pessoas com deficiência. Foi pensando nisso que a Comissão está promovendo o 5º Seminário Nacional de Catequese Junto à Pessoa com Deficiência.

O evento acontecerá em São Paulo, de 25 a 27 de março, no Centro de Pastoral Santa Fé, com o tema: A Igreja e a Pessoa com Deficiência.

O presidente da Comissão, dom Eugênio Rixen falou um pouco dessa formação catequética e convida a todos a participar desse importante seminário.

COMEMORAÇÕES

Nascimento

· Dom José Lima, Bispo Emérito de Sete Lagoas – MG, 1924

Ordenação Episcopal

· Dom José Alves da Costa, DC, Bispo Emérito de Corumbá – MS, 1986 (25 anos)

· Dom Manoel João Francisco, Bispo de Chapecó – SC, 1999

Ordenação Presbiteral

· Dom Augusto Alves da Rocha, Bispo Emérito de Floriano – PI, 1960

· Dom José Alves da Costa, DC, Bispo Emérito de Corumbá – MS, 1965

· Dom Luiz Soares Vieira, Arcebispo de Manaus – AM, 1960

· Dom Oneres Marchiori, Administrador Apostólico de Caçador – PR, Bispo Emérito de Lages – SC, 1960

Anuário Pontifício 2011 aponta crescimento no número de católicos no mundo

Fonte: CNBB

O Anuário Pontifício, edição 2011, foi apresentado ao papa Bento XVI, na manhã de sábado, no Vaticano, pelo secretário de Estado, cardeal Tarcísio Bertone e pelo substituto para assuntos gerais do Vaticano, dom Fernando Filoni. A edição 2011 revela que o número de católicos no mundo aumentou 1,7% entre 2008 e 2009, com mais 15 milhões de batizados, principalmente na África e na Ásia.

Os dados do Anuário Pontifício mostram que há 1,18 bilhões de católicos no mundo e quase metade, 49,4%, vive no Continente Americano.

Na Europa, a população católica corresponde a 24%, praticamente metade do número de fieis presentes nas Américas.

Os bispos também aumentaram. Dos 5002 em 2008 passou para 5056 em 2009, um aumento de 1,3 %.

O número de padres também aumentou, de 405.178 em 2000 para 410.593 em 2009. O Anuário mostra também que o número de diáconos permanentes teve um crescimento de 2,5 por cento, passando de ser 37.203 em 2008 para 38.155 em 2009.

Quantos às religiosas, o seu número diminuiu, de 739 mil para 729 mil, em apenas num ano. Apesar disto as vocações aumentam na África e Ásia.

Os seminaristas aumentaram em 0,82%, passando de ser 117.978 em 2009. Grande parte do aumento também se deve à África e Ásia, com um ritmo de crescimento de em média de 2,2% a 2,39%, respectivamente. No mesmo período a Europa e América diminuíram suas porcentagens em 1,64 e 0,17%, respectivamente.